Dizem que quem bebe muito tem amnésia alcoólica (e quem não bebe, insiste em dizer que isso é frescura, malandragem ou coisa assim - garanto que não é! Tenho mais horas de bebedeiras homéricas do que urubu de vôo, ok? hahahaha) e dizem que alguns velhinhos desligam o aparelho de surdez com a finalidade de ouvirem somente o que lhes convém (literalmente) - prática literal que seria adotada por inúmeros seres humanos se tivessem problemas de audição efetivamente (mas que é adotada em sentido figurado - já que muita gente só ouve o que quer ou finge não ouvir o que não quer).
Com o tempo, aprendi a desenvolver audição seletiva. Meus ouvidos continuam parecendo de tuberculoso (ouço até a vizinha do lado cochichando com a vizinha do primeiro andar por interfone/telefone pra vocês terem noção, e nem preciso encostar o ouvido na parede e nem ficar ouvindo atrás da porta...rs). Porém, existem coisas que realmente é melhor não ouvir, principalmente pra evitar um acesso de ira ou de língua destravada.
Além da audição, percebi esses dias que também desenvolvi uma outra habilidade de seleção: a MEMÓRIA! Desde cedo, minha memória visual sempre foi muito aguçada, então, pra não esquecer das coisaas, eu adquiri o hábito de anotá-las. Anotava na agenda dias de festas ou provas, fazia diários (ainda faço! haahah) - quando os post its amarelinhos foram lançados, meu quarto, cadernos, escrivaninha, luminária, espelho, vivia cheio deles espalhados... inclusive na época da faculdade, quando alguns professores não permitiam consultas à legislação e eu me via obrigada a decorar artigos de lei e seus respectivos assuntos - como eu ODEIO direito civil.
Enfim, com isso, ainda na época da faculdade, achei que seria válido fazer anotações não só sobre matérias (cujos resumos eram impecavelmente completos e minuciosos) e fatos do cotidiano, mas também das pessoas que passavam pela minha vida. Posso garantir que até aqueles caras que eu fiquei "por farra", constam das minhas anotações como "desconhecidos" (principalmente pra não serem vítimas da tal "amnésia alcoólica" - o que demonstraria claramente o total "desvalor do ser humano", que eu acho uma sacanagem das brabas!).
No começo, bastava UMA anotaçãozinha num canto de folha pra eu nunca mais esquecer do evento, fato ou pessoa, mas com o tempo, notei que algumas coisas eram "esquecidas" com mais facilidade depois que eu as anotava. Outras, eu NEM anotava. Quantas vezes não percebi que, com todas as nossas zueiras juntas, a memória da Fabi é MUITO mais extensa que a minha em relação às coisas que a gente viveu. Em várias ocasiões, eu me esforcei TANTO pra lembrar de algo que ela estava "contando" que cheguei ao ponto de "tomar umas" pra ativar a "memória etílica". NEM isso dava resultado! hahahaah
No meio tempo disso tudo, li umas coisas sobre Sherlock Holmes e a forma como ele organizava seu cérebro, com a finalidade de descobrir os crimes e tal. Como foi descrito no texto (até blogo ele qualquer dia), separei meu cérebro em compartimentos, como se fossem caixas dentro de um sótão (aliás, sótão é o termo usado no texto). Encaixotei assuntos de forma racional e organizada, deixando os mais recentes/importantes/usados/lembrados "na frente" e as coisas sem importância ou que eu realmente preferia esquecer (por algum "trauma" emocional), joguei "lá no fundo". Tentei não me desfazer de nada, por ínfima que fosse a importância da lembrança. Sempre tive consciência de que TUDO, TUDO o que vivemos e apreendemos terá alguma utilidade no futuro.
A partir de então, as minhas anotações começaram a surgir como "válvulas de escape". Ao invés de anotar pra lembrar, eu anotava pra poder esquecer, sem culpa, sem temores de precisar "daquilo" mais pra frente. Foi útil, ante o turbilhão que minha cabeça é no dia a dia. Sempre pensei demais e, por mais que eu "retire lembranças" da minha memória, continuo pensando demais (como já me explicou um médico - e mais de um - meu cérebro gasta mais energia do que minha boca e estômago conseguem consumir e processar - por isso sou esbelta! - sem brincadeira!).
Contudo, esse "pensar demais" de um tempo pra cá, se restringe ao que realmente importa. Organizando o sótão, consegui estabelecer parâmetros e classificar a prioridade das coisas. (Às vezes, ainda cai uma caixa ou outra da pilha e eu me atrapalho, mas... acontece! rs Só que isso não me assusta mais como fazia no começo - o medo de ter "más recordações" era tanto que eu me recusava a mexer na caixa pra botar ela em ordem novamente - hoje já estou sabendo lidar com o que passou de forma mais amena).
Falei, falei e não disse nada né?... Vou dizer agora...
Tudo isso foi pra chegar em um ponto: foram TANTAS as pessoas que passaram pela minha vida sem um estado de permanência que, nunca imaginei a "utilidade" das anotações que fazia (e ainda faço) a respeito delas. Esses dias, ressurgiu alguém que, se não tivesse lembrado de mim, eu NUNCA ia lembrar da existência! Aquarianos costumam ter boa memória (seja o sótão organizado ou não), principalmente memória relativa a fisionomia. Podemos não saber/lembrar nome, idade, quando, como, onde, mas dificilmente esquecemos um rosto (ou um detalhe desse rosto).
Porém, esse aquariano foi mais longe. Lembrou do meu rosto, nome, o que eu fazia na época e, ao que parecia, lembrava de MUITO MAIS! Me questionou a respeito e eu... NADA! Não conseguia me lembrar de ABSOLUTAMENTE NADA a respeito dele: nem nome, nem rosto, nem nada, nada, nada, nadica de nada! (A repetição da palavra "nada" é só pra vocês entenderem que nada é NADA MESMO!...)
Então, diante dos inúmeros meios de comunicação existentes, falei pra ele me adicionar no orkut. Ele adicionou. Foi só então que me toquei que ele era aquariano e, nem assim, eu conseguia lembrar de nada (a não ser de que eu sempre fui fissurada em aquarianos - desculpem-me pessoas de outros signos, mas só um aquariano pra entender outro - de 4 melhores amigas que tenho, 3 são de aquário!). Imaginei que "o Aguadeiro" tivesse algo a ver com a memória de elefante do rapaz e, também, com a minha memória seletiva - já que cansei de ver aquarianos não lembrando de certas coisas, exatamente como eu!
Continuei passeando pelo perfil e pensei "bom, eu dificilmente me esqueço de um rosto, mas não consegui me lembrar de PORRA NENHUMA desse cara... vou olhar as fotos de novo"... Lentamente, comecei a olhar as fotos, prestando atenção a detalhes do rosto. Foi então que, num lampejo de qualquer coisa que não posso classificar como 'lembrança', já que foi só um lampejo, notei uma "marca de expressão" num esboço de sorriso numa das fotos. Na hora, me deu um "tum": "fiquei com ele... será?"
Pois bem. O cara foi atencioso, educado e, pelo jeito, lembrava de "tudo". Comecei a lembrar dos detalhes que ele me deu nos e-mails, no sorrisinho da foto... e não conseguia lembrar com certeza de absolutamente nada. A única coisa "viva" de verdade era uma sensação de "teve alguma coisa errada nesse meio tempo que me fez esquecer".
Fui lá nas minhas anotações sobre pessoas. Fucei, fucei. O cara citou a faculdade... fui la em 1995/1996 (já que em maio/96 comecei a namorar e continuei namorando até maio/99). NÃO É QUE ACHEI ALGO?!?!?! Um nome, um local, uma data (minhas anotações são remissivas e cheias de códigos e detalhes). Juro que forcei a memória, mas a única coisa que ficou nítida (além da sensação ruim) foi uma imagem de um sorriso (na época, belo sorriso! ahahaha).
Depois disso, inconformada por não lembrar detalhes, fiquei pensando, "mascando" as coisas como chiclete... não cheguei à conclusão alguma! A sensação ruim ficou: não sei ao certo se tomei um fora ou um perdido, mas COM CERTEZA foi uma dessas duas coisas que me fez "não lembrar" do cara. Péssimo!
Treze (sim, tre-ze) anos depois, aparece um "ghost" na minha vida ahahhaah. Tudo bem vai, meu passado pode até me condenar, mas eu repetiria MUITAS coisas se ainda tivesse pique (na verdade, não precisaria repetir se não tivesse decidido parar... né? Poderia simplesmente continuar, continuar...rs). Ah, claro que, no caso específico desse relato, creio que eu não repetiria. Não pra tomar um fora ou um perdido! hahahaha Eu não era tão ardilosa com 19 anos! (Se eu voltasse no tempo, provavelmente não ia ter anotações pra fazer a respeito dele!)
Só pra desentalar, vou terminar o post com um trechinho de uma música "trolha":
♪♫ Baba, olha o que perdeu! Baba, criança cresceu! ♫♪
=P