terça-feira, 30 de junho de 2009

PASSADO É PASSADO

... ou, pelo menos, deveria ser.

Hoje eu tinha tirado o dia pra trabalhar em casa. Aliás, isso é o que eu tenho feito desde quinta à tarde. Fiz, por baixo, dez processos, entre laudos e impugnações. Hoje, dia útil, no qual eu deveria estar trabalhando, o cansaço físico me pegou. Se faz mal? A mim, nenhum (o percentual DESSES processos, SEMPRE chegam na minha mão). Então, resolvi fazer outras coisas.

Primeiro, saí pra comprar uma luminária nova pra escrivaninha da Isa. Coitadinha, usava a luminária que EU usava quando ainda estudava no Mackenzie. A tal luminária foi aposentada por excesso de uso descuidado. Três mudanças de residência, anos e anos de uso diário e váááários tombos, fizeram, desta vez, que os fios se soltassem dentro da caixinha soldada de metal em que tudo deveria funcionar. Os riscos, as marcas, o "encardido" dos anos no material plástico da luminária não foram nada perto desse lance dos fios. Pior que eu não consegui arrumar. Ô tristeza. De quem veio essa (meu Pai) não vem outra. Mas tudo bem. Comprei uma nova pra Isa. Prateada e preta, toda "mocinha". Quero só ver a cara dela quando ela chegar. (Só saí correndo pra comprar hoje porque ela tem que estudar pras provas globais: são três matérias amanhã e quatro na quinta feira! Dó!)

E, então, fiquei pensando numa "descoberta" (inútil, claro) que fiz hoje pela manhã (e que me fez - e ainda está fazendo - destilar algum veneno). Meu sarcasmo atacou, mas não como era antes. Não senti aquele "vvvvvvvuuup" vindo da boca do estômago enquanto a destilação acontecia. Senti, realmente, NADA. Tipo, escrevi o que vinha da cabeça, mas nada passou pelo caminho de alguma emoção. Eu AINDA acho estranho me sentir indiferente ou neutra. Nunca "fui" assim e agora, com todas as mudanças que aconteceram, "estou" assim e ainda não me habituei (apesar de todos os benefícios que esse estado de indiferença me trouxe e está me trazendo).

É claro que essa "indiferença" tem limite. Eu não ligo pra pessoa, pro que ela faz, pensa, sente, come... mas me deixa extremamente curiosa o fato de certas atitudes ainda serem tomadas com base nas minhas coisas, na minha vida. Essa pessoa é PASSADO pra mim e está no lugar dela. Láááá atrás. Mas, eu ainda não fiquei no lugar que deveria pra ela, porque eu não sou novela, mas ela está me acompanhando.

Isso me intriga. Eu fui tão "errada", tão "sacana" e todo mundo sabe que quando alguém dá uma mancada, vai acabar dando outra, então POR QUE EU, se eu "certamente" vou dar mancada? Hoje passou pela minha cabeça que as ligações que acontecem a cada quarenta e cinco ou sessenta dias, essas "visitas" (virtuais) ao "meu mundo", essa curiosidade das pessoas em relação ao que eu estou vivendo, passando, com quem estou ou deixo de estar, se eu estou ou não com alguém (do sexo oposto), se eu tenho ou não dinheiro pra pagar contas, sair, brincar de consumista, dentre outras coisas, podem representar:

1 - Saudade ¬¬

2 - Inconformismo (de eu estar vivendo minha vida "muito bem, obrigada", de nunca ter tentado uma aproximação, de nunca ter falado mais nada, de ter parado de "provocar" e aceitar provocação, de ser indiferente com as pessoas super "honestas, maduras e centradas" da família da pessoa e também com o que acontece com elas, etc)

3 - "Mera" curiosidade (gerada pelo inconformismo, talvez?)

4 - Orgulho ferido (por estar se sentindo uma merdinha de mosca depois de ter se achado imprescindível =D ... ai, não resisto ao sarcasmo que me diverte)

5 - Raiva (querendo me ver no fundo do poço)

6 - Inveja (porque eu sou ocupada, responsável, inteligente, alta, bonita, gostosa, tenho olhos verdes, cabelos que ficam do jeito que eu quero conforme o dia e a ocasião, independente financeiramente - sim, eu sou! - elegante, tenho bom gosto e enxergo anos luz adiante? =D)

7 - Outros (estou com preguiça de pensar em outras razões pra essa pessoa continuar "vigiando" minha vida - como pode ahahahaha)

Já sei que, no item 6, vocês estão pensando ironicamente "é modesta também". Explico minha forma de pensar com o seguinte raciocínio: quando a gente se conhece BEM, somos REALISTAS, independente dos defeitos e qualidades que possuímos. Além disso, os hipócritas costumam ser modestos (e camuflar o ego inflado). E, tem mais: os incompetentes costumam ser humildes (lobos em pele de cordeiros) e prepotentes (falam muito e não fazem nada, já que não tem poder e força interior). Arrogantes são os que PODEM (podem no sentido de ter PODER de realização, de atingir objetivos sem pisar em ninguém, de serem melhores que os outros e não esconderem isso de ninguém).

Ou seja, não sou hipócrita e, ainda por cima, sou arrogante. Arrogância não é defeito, porque ela não usa a humilhação como "arma". A prepotência é um defeito, e um dos mais graves. Normalmente os prepotentes são orgulhosos, invejosos, incompetentes, com pouco poder de persuasão (quando têm), pouca cultura, pouca educação (formal e familiar) e um conceito distorcido de "berço". O arrogante tem berço, educação, cultura e, normalmente, é bonito (ou, no mínimo, charmoso) e cheira gostoso! ahahahahhahaha...

Tudo bem vai... estou sendo venenosa, sarcástica e estou me divertindo falando mal dos outros, eu admito! Porém, sei que quando este post terminar, tenho o PODER de voltar ao meu estado de contemplação e indiferença. Escrevo essas coisas porque gosto de filosofia (seja barata, de botequim, clássica, clínica, etc) e os seres menores me dão motivos pra filosofar enquanto fabrico e destilo meu veneno, e me divirto com meu sarcasmo.

(Estão vendo como sou arrogante? Posso me sentir como eu quero, quando eu quero ou acho que devo! Isso é o máximo! ahahah Estou brincando. Sou arrogante porque aproveito tudo o que posso aprender pra me tornar uma pessoa melhor. Sou arrogante porque tenho o poder de me por à prova e me resolver sem viver a vida de outras pessoas. Sou arrogante porque sou independente financeiramente - mesmo com tropeços - e sou bem resolvida emocionalmente: sei o meu lugar no meu mundo e no mundo das pessoas que amo. Sou arrogante porque POSSO. Posso fazer tudo o que desejo e preciso e posso assumir as consequências desses atos. SER ARROGANTE É UMA DELÍCIA. Vocês deveriam experimentar conhecer seus limites, terem consciência de si mesmos, não terem vergonha do lado "obscuro" que todo mundo tem e serem arrogantes por terem esse poder! Eu aconselho!)

Enfim, ao que me lembro (é... do passado a gente lembra, mas não vive dele) é essa coisa da "prepotência" (da pessoa) vs (a minha) arrogância que gerou vários problemas. Eu não tenho culpa de ter bom caráter e personalidade forte, de pensar com a minha própria cabeça, de tomar minhas próprias decisões. Não sacaneio ninguém, mas me divirto com a estupidez alheia. Não julgo, apenas observo.

O que é passado pra mim, ainda parece presente pros outros. Ô bando de museu! Mas, tudo bem, quem sabe, um dia, eu venha a entender o porque dessa "vigilância" sobre a minha vida, essa "curiosidade" toda. Vindas de onde vêm, "admiração", "respeito", "querer bem"... são palavras e expressões que não cabem.

Aceito sugestões de quem entender sobre quem estou falando. Aceito comentários sarcásticos, irônicos e sérios também. Aceito responder perguntas (fora do blog) a quem quiser entender tudo isso pra poder opinar. Aceito mandar e-mail explicando também... nossa, como eu estou receptiva hoje, não? rs

Beijo pra vocês!

PS: A situação sobre aqueles processos não recebidos que falei nos posts anteriores está encaminhada, mas ainda não está resolvida. Estará quando MEU dinheiro estiver na MINHA conta corrente, sob o MEU poder de decisão sobre o que fazer com ele. =]

terça-feira, 16 de junho de 2009

A LÓGICA DO AMOR

Recebi isto por e-mail. Os erros em nomes e tempos verbais não podem ser atribuídos a mim, já que não escrevi o texto, ok? =]


"O Amor é uma Falácia

Eu era frio e lógico. Sutil, calculista, perspicaz, arguto e astuto - era tudo isso. Tinha um cérebro poderoso como um dínamo, preciso como uma balança de farmácia, penetrante como um bisturi. E tinha - imaginem só - dezoito anos.

Não é comum ver alguém tão jovem com um intelecto tão gigantesco. Tomem, por exemplo, o caso do meu companheiro de quarto na universidade, Pettey Bellows. Mesma idade, mesma formação, mas burro como uma porta. Um bom sujeito, compreendam, mas sem nada lá em cima. Do tipo emocional. Instável, impressionável. Pior do que tudo, dado a manias. Eu afirmo que a mania é a própria negação da razão. Deixar-se levar por qualquer nova moda que apareça, entregar a alguma idiotice só porque os outros a segue, isto, para mim, é o cúmulo da insensatez.. Petey, no entanto, não pensava assim.

Certa tarde, encontrei-o deitado na cama com tal expressão de sofrimento no rosto que o meu diagnóstico foi imediato: apendicite.

- Não se mexa. Não tome laxante. Vou chamar o médico..

- Couro preto - balbuciou ele.

- Couro preto? - disse eu, interrompendo a minha corrida.

- Quero uma jaqueta de couro preto - disse.

Percebi que o seu problema não era físico, mas mental.

- Por que você quer uma jaqueta de couro preto?

- Eu devia ter adivinhado - gritou ele, socando a cabeça - Devia ter adivinhado que eles voltariam com o Charleston. Como um idiota, gastei todo o meu dinheiro em livros para as aulas e agora não posso comprar uma jaqueta de couro preto.

- Quer dizer - perguntei incrédulo - que estão mesmo usando jaquetas de couro preto outra vez?

- Todas as pessoas importantes da universidade estão. Onde você tem andado?

- Na biblioteca - respondi, citando um lugar não freqüentado pela pessoas importantes da Universidade.

Ele saltou da cama e pôs-se a andar de um lado para o outro do quarto.

- Preciso conseguir uma jaqueta de couro preto - disse, exaltado - Preciso mesmo.

- Por que, Pety? Veja a coisa racionalmente. Jaquetas de couro preto são desconfortáveis. Impedem o movimento dos braços. São pesadas, são feias, são ...

- Você não compreende - interrompeu ele com impaciência - é o que todos estão usando. Você não quer andar na moda?

- Não - respondi, sinceramente.

- Pois eu sim - declarou ele - daria tudo para ter uma jaqueta de couro preto. Tudo.

Aquele instrumento de precisão, meu cérebro, começou a funcionar a todo vapor.

- Tudo? - perguntei, examinando seu rosto com olhos semicerrados.

- Tudo - confirmou ele, em tom dramático.

Alisei o queixo, pensativo. Eu, por acaso, sabia onde encontrar uma jaqueta de couro preto. Meu pai usara um nos seus tempos de estudante; estava agora dentro de um malão, no sótão da casa. E, também por acaso, Petey tinha algo que eu queria. Não era dele, exatamente, mas pelo menos ele tinha alguns direitos sobre ela. Refiro-me à sua namorada, Polly Spy.

Eu há muito desejava Polly Spy. Apresso-me a esclarecer que o meu desejo não era de natureza emotiva. A moça, não há dúvida, despertava emoções, mas eu não era daqueles que se deixam dominar pelo coração. Desejava Polly para fins engenhosamente calculados e inteiramente cerebrais.

Cursava eu o primeiro ano de direito. Dali a algum tempo, estaria me iniciando na profissão. Sabia muito bem a importância que tinha a esposa na vida e na carreira de um advogado. Os advogados de sucesso, segundo as minhas observações, eram quase sempre casados com mulheres bonitas, graciosas e inteligentes. Com uma única exceção, Polly preenchia perfeitamente estes requisitos.

Era bonita. Suas proporções ainda não eram clássicas, mas eu tinha certeza de que o tempo se encarregaria de fornecer o que faltava. A estrutura básica estava lá.

Graciosa também era. Por graciosa quero dizer cheia de graças sociais. Tinha porte ereto, a naturalidade no andar e a elegância que deixavam transparecer a melhor das linhagens. Á mesa, suas maneiras eram finíssimas. Eu já vira Polly no barzinho da escola comendo a especialidade da casa - um sanduíche que continha pedaços de carne assada, molho, castanhas e repolho - sem nem sequer umedecer os dedos.

Inteligente ela não era. Na verdade, tendia para o oposto. Mas eu confiava em que, sob a minha tutela, haveria de tornar-se brilhante. Pelo menos valia a pena tentar. Afinal de contas, é mais fácil fazer uma moça bonita e burra ficar inteligente do que uma moça feia e inteligente ficar bonita.

- Petey - perguntei - você ama Polly Spy?

- Eu acho que ela é interessante - respondeu - mas não sei se chamaria isso de amor. Por quê?

- Você - continuei - tem alguma espécie de arranjo formal com ela? Quero dizer, vocês saem exclusivamente um com o outro?

- Não. Nos vemos seguidamente. Mas saímos os dois com outros também. Por quê?

- Existe alguém - perguntei - algum outro homem que ela goste de maneira especial?

- Que eu saiba não. Por quê?

Fiz que sim com a cabeça, satisfeito.

- Em outras palavras, a não ser por você, o campo está livre, é isso?

- Acho que sim. Aonde você quer chegar?

- Nada, anda - respondi com inocência, tirando minha mala de dentro do armário.

- Onde é que você vai? - quis saber Petey.

- Passar o fim de semana em casa.

Atirei algumas roupas dentro da mala.

- Escute - disse Petey, apegando-se com força ao meu braço - em casa, será que você não poderia pedir dinheiro ao seu pai, e me emprestar para comprar uma jaqueta de couro preto?

- Posso até fazer mais do que isso - respondi, piscando o olho misteriosamente. Fechei a mala e saí.

- Olhe - disse a Petey, ao voltar na segunda feira de manhã. Abri a mala e mostrei o enorme objeto cabeludo e fedorento que meu pai usara ao volante de seu Stutz Beacat em 1955.

- Santo Pai - exclamou Petey com reverência. Passou as mãos na jaqueta e depois no rosto. - Santo Pai - repetiu, umas quinze ou vinte vezes.

- Você gostaria de ficar com ela? - perguntei.

- Sim - gritou ele, apertando a jaqueta contra o peito. Em seguida, seus olhos assumiram um ar precavido. - O que quer em troca?

- A sua namorada - disse eu, não desperdiçando palavras.

- Polly? - sussurrou Petey, horrorizado. - Você quer a Polly?

- Isso mesmo.

Ele jogou a jaqueta pra longe.

- Nunca - declarou resoluto.

Dei de ombros.

- Tudo bem. Se você não quer andar na moda, o problema é seu.

Sentei-me numa cadeira e fingi que lia um livro, mas continuei espiando Petey, com o rabo dos olhos. Era um homem partido em dois. Primeiro olhava para a jaqueta com a expressão de uma criança desamparada diante da vitrine de uma confeitaria. Depois dava-lhe as costas e cerrava os dentes, altivo. Depois voltava a olhar para a jaqueta. Com uma expressão ainda maior de desejo no rosto. Depois virava-se outra vez, mas agora sem tanta resolução. Sua cabeça ia e vinha, o desejo ascendendo, a resolução descendendo. Finalmente, não se virou mais: ficou olhando para a jaqueta com pura lascívia.

- Não é como se eu estivesse apaixonado por Polly - balbuciou. - Ou mesmo namorando sério, ou coisa parecida.

- Isso mesmo - murmurei.

- Afinal, Polly significa o que para mim, ou eu pra ela?

- Nada - respondi.

- Foi uma coisa banal. Nos divertimos um pouco. Só isso.

- Experimente a jaqueta - disse eu.

Ele obedeceu. A jaqueta ficou bem larga, passando da cintura. Ele parecia um motoqueiro mal vestido da década de cinqüenta.

- Serve perfeitamente - disse, contente.

Levantei-me da cadeira e perguntei, estendendo a mão.

- Negócio feito?

Ele engoliu a seco.

- Feito - disse, e apertou a minha mão.

Saí com Polly pela primeira vez na noite seguinte.

O Primeiro programa teria o caráter de pesquisa preparatória. Eu desejava saber o trabalho que me esperava para elevar a sua mente ao nível desejado. Levei-a para jantar.

- Puxa, que jantar interessante! - disse ela, quando saímos do restaurante. Fomos ao cinema.

- Puxa, que filme interessante! - disse ela, quando saímos do cinema.

Levei-a para casa.

- Puxa, que noite interessante - disse ela, ao nos despedirmos.

Voltei para o quarto com o coração pesado. Eu subestimara gravemente as proporções da minha tarefa. A ignorância daquela moça era aterradora. E não seria o bastante apenas instruí-la. Era preciso, antes de tudo, ensiná-la a pensar. O empreendimento se me afigurava gigantesco, e a princípio me vi inclinado a devolvê-la a Petey. Mas aí comecei a pensar nos seus dotes físicos generosos e na maneira como entrava numa sala ou segurava uma faca, um garfo, e decidi tentar novamente.

Procedi, como sempre, sistematicamente. Dei-lhe um curso de Lógica. Acontece que, como estudante de direito, eu freqüentava na ocasião aulas de Lógica, e portanto tinha tudo na ponta da língua.

- Polly - disse eu, quando fui buscá-la para o nosso segundo encontro. - Esta noite vamos até o parque conversar.

- Ah, que interessante! - respondeu ela..

Uma coisa deve ser dita em favor da moça: seria difícil encontrar alguém tão bem disposta para tudo.

Fomos até o parque, o local de encontros da universidade, nos sentamos debaixo de uma árvore, e ela me olhou cheia de expectativa.

- Sobre o que vamos conversar? - perguntou.

- Sobre Lógica.

Ela pensou durante alguns segundos e depois sentenciou:

- Interessante!

- A Lógica - comecei, limpando a garganta - é a ciência do pensamento. Se quisermos pensar corretamente, é preciso antes saber identificar as falácias mais comuns da Lógica. É o que vamos abordar hoje.

- Interessante! - exclamou ela, batendo palmas de alegria.

Fiz uma careta, mas segui em frente, com coragem.

- Vamos primeiro examinar uma falácia chamada Dicto Simpliciter.

- Vamos - animou-se ela, piscando os olhos com animação.

- Dicto Simpliciter quer dizer um argumento baseado numa generalização não qualificada. Por exemplo: o exercício é bom, portanto todos devem se exercitar.

- Eu estou de acordo - disse Polly, fervorosamente. - Quer dizer, o exercício é maravilhoso. Isto é, desenvolve o corpo e tudo.

- Polly - disse eu, com ternura - o argumento é uma falácia. Dizer que o exercício é bom é uma generalização não qualificada. Por exemplo: para quem sofre do coração, o exercício é ruim. Muitas pessoas têm ordem de seus médicos para não exercitarem. É preciso qualificar a generalização. Deve-se dizer: o exercício é geralmente bom, ou é bom para a maioria das pessoas. Do contrário está-se cometendo um Dicto Simpliciter. Você compreende?

- Não - confessou ela. - Mas isso é interessante. Quero mais. Quero mais!

- Será melhor se você parar de puxar a manga da minha camisa - disse eu e, quando ela parou, continuei:

- Em seguida, abordaremos uma falácia chamada generalização apressada. Ouça com atenção: você não sabe falar francês, eu não sei falar francês, Petey Bellows não sabe falar francês. Devo portanto concluir que ninguém na universidade sabe falar francês.

- É mesmo? - espantou-se Polly. - Ninguém?

Contive a minha impaciência.

- É uma falácia, Polly. A generalização é feita apressadamente. Não há exemplos suficientes para justificar a conclusão.

- Você conhece outras falácias? - perguntou ela, animada. - Isto é até melhor do que dançar.

- Esforcei-me por conter a onda de desespero que ameaçava me invadir. Não estava conseguindo nada com aquela moça, absolutamente nada. Mas não sou outra coisa senão persistente. Continuei.

- A seguir, vem o Post Hoc. Ouça: Não levemos Bill conosco ao piquenique. Toda vez que ele vai junto, começa a chover.

- Eu conheço uma pessoa exatamente assim - exclamou Polly. - Uma moça da minha cidade, Eula Becker. Nunca falha. Toda vez que ela vai junto a um piquenique...

- Polly - interrompi, com energia - é uma falácia. Não é Eula Becker que causa a chuva. Ela não tem nada a ver com a chuva. Você estará incorrendo em Post Hoc, se puser a culpa na Eula Becker.

- Nunca mais farei isso - prometeu ela, constrangida. - Você está bravo comigo?

- Não Polly - suspirei. - Não estou bravo.

- Então conte outra falácia.

- Muito bem. Vamos experimentar as premissas contraditórias.

- Vamos - exclamou ela alegremente.

Franzi a testa, mas continuei.

- Aí vai um exemplo de premissas contraditórias. Se Deus pode fazer tudo, pode fazer uma pedra tão pesada que ele mesmo não conseguirá levantar?

- É claro - respondeu ela imediatamente.

- Mas se ele pode fazer tudo, pode levantar a pedra.

- É mesmo - disse ela, pensativa. - Bem, então eu acho que ele não pode fazer a pedra.

- Mas ele pode fazer tudo - lembrei-lhe.

Ela coçou a cabeça linda e vazia.

- Estou confusa - admitiu.

- É claro que está. Quando as premissas de um argumento se contradizem, não pode haver argumento. Se existe uma força irresistível, não pode existir um objeto irremovível. Compreendeu?

- Conte outra dessas histórias interessantes - disse Polly, entusiasmada.

Consultei o relógio.

- Acho melhor parar por aqui. Levarei você em casa, e lá pensará no que aprendeu hoje. Teremos outra sessão amanhã.

Deixei-a no dormitório das moças, onde ela me assegurou que a noitada fora realmente interessante, e voltei desanimadamente para o meu quarto. Petey roncava sobre sua cama, com a jaqueta de couro encolhida a seus pés. Por alguns segundos, pensei em acordá-lo e dizer que ele podia ter Polly de volta. Era evidente que o meu projeto estava condenado ao fracasso. Ela tinha, simplesmente, uma cabeça à prova de Lógica.

Mas logo reconsiderei. Perdera uma noite, por que não perder outra? Quem sabe se em alguma parte daquela cratera de vulcão adormecido que era a mente de Polly, algumas brasas ainda estivessem vivas. Talvez, de alguma maneira, eu ainda conseguisse abaná-las até que flamejasse. As perspectivas não eram das mais animadoras, mas decidi tentar outra vez.

Sentado sob uma árvore, na noite seguinte, disse:

- Nossa primeira falácia desta noite se chama ad misericordiam.

Ela estremeceu de emoção.

- Ouça com atenção - comecei - Um homem vai pedir emprego. Quando o patrão pergunta quais as suas qualificações, o homem responde que tem uma mulher e dois filhos em casa, que a mulher e aleijada, as crianças não tem o que comer, não tem o que vestir nem o que calçar, a casa não tem camas, não há carvão no porão e o inverno se aproxima..

Uma lágrima desceu por cada uma das faces rosadas de Polly.

- Isso é horrível, horrível! - soluçou.

- É horrível - concordei - mas não é um argumento. O homem não respondeu à pergunta do patrão sobre as suas qualificações. Ao invés disso, tentou despertar a sua compaixão. Cometeu a falácia de ad misericordiam. Compreendeu?

Dei-lhe um lenço e fiz o possível para não gritar enquanto ela enxugava os olhos.

- A seguir - disse, controlando o tom da voz - discutiremos a falsa analogia. Eis um exemplo: deviam permitir aos estudantes consultar seus livros durante os exames. Afinal, os cirurgiões levam as radiografias para se guiarem durante uma operação, os advogados consultam seus papéis durante um julgamento, os construtores têm plantas que os orientam na construção de uma casa. Por quê, então, não deixar que os alunos recorram a seus livros durante uma prova?

- Pois olhe - disse ela entusiasmada - está e a idéia mais interessante que eu já ouvi há muito tempo.

- Polly - disse eu com impaciência - o argumento é falacioso. Os cirurgiões, os advogados e os construtores não estão fazendo teste para ver o que aprenderam, e os estudantes sim. As situações são completamente diferentes e não se pode fazer analogia entre elas.

- Continuo achando a idéia interessante - disse Polly..

- Santo Cristo! - murmurei, com impaciência.

- A seguir, tentaremos a hipótese contrária ao fato.

- Essa parece ser boa - foi a reação de Polly.

- Preste atenção: se Madame Curie não deixasse, por acaso, uma chapa fotográfica numa gaveta junto com uma pitada de pechblenda, nós hoje não saberíamos da existência do rádio.

- É mesmo, é mesmo - concordou Polly, sacudindo a cabeça. - Você viu o filme? Eu fiquei louca pelo filme. Aquele Walter Pidgeon é tão bacana! Ele me faz vibrar.

- Se conseguir esquecer o Sr. Pidgeon por alguns minutos - disse eu, friamente - gostaria de lembrar que o que eu disse é uma falácia. Madame Curie teria descoberto o rádio de alguma outra maneira. Talvez outra pessoa o descobrisse. Muita coisa podia acontecer. Não se pode partir de uma hipótese que não é verdadeira e tirar dela qualquer conclusão defensável.

- Eles deviam colocar o Walter Pidgeon em mais filmes - disse Polly - Eu quase não vejo ele no cinema.

Mais uma tentativa, decidi. Mas só mais uma. Há um limite para o que podemos suportar.

- A próxima falácia é chamada de envenenar o poço..

- Que engraçadinho! - deliciou-se Polly.

- Dois homens vão começar um debate. O primeiro se levante e diz: ‘o meu oponente é um mentiroso conhecido.. Não é possível acreditar numa só apalavra do que ele disser’. Agora, Polly, pense bem, o que está errado?

Vi-a enrugar a sua testa cremosa, concentrando-se. De repente, um brilho de inteligência - o primeiro que vira - surgiu nos seus olhos.

- Não é justo! - disse ela com indignação - Não é justo. O primeiro envenenou o poço antes que os outros pudesse beber dele. Atou as mãos do adversário antes da luta começar... Polly, estou orgulhoso de você.

- Ora - murmurou ela, ruborizando de prazer.

- Como vê, minha querida, não é tão difícil. Só requer concentração. É só pensar, examinar, avaliar. Venha, vamos repassar tudo o que aprendemos até agora.

- Vamos lá - disse ela, com um abano distraído da mão.

Animado pela descoberta de que Polly não era uma cretina total, comecei uma longa e paciente revisão de tudo o que dissera até ali. Sem parar citei exemplos, apontei falhas, martelei sem dar trégua. Era como cavar um túnel. A princípio, trabalho duro e escuridão. Não tinha idéia de quando veria a luz ou mesmo se a veria. Mas insisti. Dei duro, até que fui recompensado. Descobri uma fresta de luz. E a fresta foi se alargando até que o sol jorrou para dentro do túnel, clareando tudo.

Levara cinco noites de trabalho forçado, mas valera a pena. Eu transformara Polly em uma lógica, e a ensinara a pensar. Minha tarefa chegara a bom termo. Fizera dela uma mulher digna de mim. Está apta a ser minha esposa, uma anfitriã perfeita para as minhas muitas mansões. Uma mãe adequada para os meus filhos privilegiados.

Não se deve deduzir que eu não sentia amor por ela. Muito pelo contrário. Assim como Pigmaleão amara a mulher perfeita que moldara para si, eu amava a minha. Decidi comunicar-lhe os meus sentimentos no nosso encontro seguinte. Chegara a hora de mudar as nossas relações, de acadêmicas para românticas.

- Polly, disse eu, na próxima vez que nos sentamos sob a árvore - hoje não falaremos de falácias.

- Puxa! - disse ela, desapontada.

- Minha querida - prossegui, favorecendo-a com um sorriso - hoje é a sexta noite que estamos juntos. Nos demos esplendidamente bem. Não há dúvidas de que formamos um bom par.

- Generalização apressada - exclamou ela, alegremente.

- Perdão - disse eu.

- Generalização apressada - repetiu ela. - Como é que você pode dizer que formamos um bom par baseado em apenas cinco encontros?

Dei uma risada, contente. Aquela criança adorável aprendera bem as suas lições.

- Minha querida - disse eu, dando um tapinha tolerante na sua mão - cinco encontros são o bastante. Afinal, não é preciso comer um bolo inteiro para saber se ele é bom ou não.

- Falsa Analogia - disse Polly prontamente - eu não sou um bolo, sou uma pessoa.

Dei outra risada, já não tão contente. A criança adorável talvez tivesse aprendido a sua lição bem demais. Resolvi mudar de tática. Obviamente, o indicado era uma declaração de amor simples, direta e convincente. Fiz uma pausa, enquanto o meu potente cérebro selecionava as palavras adequadas. Depois reiniciei.

- Polly, eu te amo. Você é tudo no mundo pra mim, é a lua e a estrelas e as constelações no firmamento. For favor, minha querida, diga que será minha namorada, senão a minha vida não terá mais sentido. Enfraquecerei, recusarei comida, vagarei pelo mundo aos tropeções, um fantasma de olhos vazios.

Pronto, pensei; está liquidado o assunto.

- Ad misericordiam - disse Polly.

Cerrei os dentes. Eu não era Pigmaleão; era Frankenstein, e o meu monstro me tinha pela garganta. Lutei desesperadamente contra o pânico que ameaçava invadir-me. Era preciso manter a calma a qualquer preço.

- Bem, Polly - disse, forçando um sorriso - não há dúvida que você aprendeu bem as falácias.

- Aprendi mesmo - respondeu ela, inclinando a cabeça com vigor.

- E quem foi que ensinou a você, Polly?

- Foi você.

- Isso mesmo. E portanto você me deve alguma coisa, não é mesmo, minha querida? Se não fosse por mim, você nunca saberia o que é uma falácia.

- Hipótese Contrária ao Fato - disse ela sem pestanejar.

Enxuguei o suor do rosto.

- Polly - insisti, com voz rouca - você não deve levar tudo ao pé da letra. Estas coisas só têm valor acadêmico. Você sabe muito bem que o que aprendemos na escola nada tem a ver com a vida.

- Dicto Simpliciter - brincou ela, sacudindo o dedo na minha direção.

Foi o bastante. Levantei-me num salto, berrando como um touro.

- Você vai ou não vai me namorar?

- Não vou - respondeu ela.

- Por que não? - exigi.

- Porque hoje à tarde eu prometi a Petey Bellows que eu seria a namorada dele.

Quase caí para trás, fulminado por aquela infâmia. Depois de prometer, depois de fecharmos negócio, depois de apertar a minha mão!

- Aquele rato! - gritei, chutando a grama. - Você não pode sair com ele, Polly. É um mentiroso. Um traidor. Um rato.

- Envenenar o poço - disse Polly - E pare de gritar. Acho que gritar também deve ser uma falácia.

Com uma admirável demonstração de força de vontade, modulei a minha voz.

- Muito bem - disse - você é uma lógica. Vamos olhar as coisas logicamente. Como pode preferir Petey Bellows? Olhe para mim: um aluno brilhante, um intelectual formidável, um homem com futuro assegurado. E veja Petey: um maluco, um boa vida, um sujeito que nunca saberá se vai comer ou não no dia seguinte. Você pode me dar uma única razão lógica para namorar Petey Bellows?

- Posso sim - declarou Polly - Ele tem uma jaqueta de couro preto.
(in Sulman, M. (1973): As calcinhas cor-de-rosas do Capitão, Porto Alegre: Ed. Globo)

segunda-feira, 15 de junho de 2009

NKOTB IS TOO STRONG

The Unofficial Officially TWISTED Video


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Peguei o link no blog do NKOTB!
(Pois é... eu leio e ainda comento lá! hahahaha)

Ai ai...rs

domingo, 14 de junho de 2009

AH, O VERÃO!

Eu ODEEEEEEEEEEIO primavera e outono. Principalmente o outono. Saímos de casa morrendo de frio, depois passamos pelo período de verão do dia pra, no final da tarde, voltarmos ao freezer, como se estivéssemos saindo de casa de manhã novamente. A gente fica como cebola, e vai tirando as camadas conforme o dia vai clareando ou escurecendo... pelamord! Isso não é pra mim!...rs

Gosto do verãozão ou do invernão: essa coisa "morna-quente" ou "morna-fria" é irritante!...rs Dia-bão é aquele em que a gente sai de casa vestido de um jeito e não tem que ficar tirando ou colocando roupa conforme ele passa.

Sendo assim, lá vai uma do Luís Fernando Veríssimo!
Bjos!

"O verão......

Verão também é sinônimo de pouca roupa e muito chifre, pouca cintura e muita gordura, pouco trabalho e muita micose.

Verão é picolé de Kisuco no palito reciclado, é milho cozido na água da torneira, é coco verde aberto pra comer a gosminha branca.

Verão é prisão de ventre de uma semana e pé inchado que não entra no tênis.

Mas o principal ponto do verão é.... a praia! Ah, como é bela a praia. Os cachorros fazem cocô e as crianças pegam pra fazer coleção. Os casais jogam frescobol e acertam a bolinha na cabeça das véias. Os jovens de jet ski atropelam os surfistas, que por sua vez, miram a prancha pra abrir a cabeça dos banhistas.

O melhor programa pra quem vai à praia é chegar bem cedo, antes do sorveteiro, quando o sol ainda está fraco e as famílias estão chegando. Muito bonito ver aquelas pessoas carregando vinte cadeiras, três geladeiras de isopor, cinco guarda-sóis, raquete, frango, farofa, toalha, bola, balde, chapéu e prancha, acreditando que estão de férias. Em menos de cinqüenta minutos, todos já estão instalados, besuntados e prontos pra enterrar a avó na areia.

E as crianças? Ah, que gracinhas!
Os bebês chorando de desidratação, as crianças pequenas se socando por uma conchinha do mar, os adolescentes ouvindo seus MP5s enquanto dormem. As mulheres também têm muita diversão na praia, como buscar o filho afogado e caminhar vinte quilômetros pra encontrar o outro pé do chinelo. Já os homens ficam com as tarefas mais chatas, como perfurar o poço pra fincar o cabo do guarda-sol. É mais fácil achar petróleo do que conseguir fazer o guarda-sol ficar em pé.

Mas tudo isso não conta, diante da alegria, da felicidade, da maravilha que é entrar no mar! Aquela água tão cristalina, que dá pra ver os cardumes de latinha de cerveja no fundo. Aquela sensação de boiar na salmoura como um pepino em conserva.
Depois de um belo banho de mar, com o rego cheio de sal e a periquita cheia de areia, vem aquela vontade de fritar na chapa.

A gente abre a esteira velha, com o cheiro de velório de bode, bota o chapéu, os óculos escuros e puxa um ronco bacaninha. Isso é paz, isso é amor, isso é o absurdo do calor!!!!! Mas, claro, tudo tem seu lado bom.

E à noite o sol vai embora.
Todo mundo volta pra casa tostado e vermelho como mortadela, toma banho e deixa o sabonete cheio de areia pro próximo. O Shampoo acaba e a gente acaba lavando a cabeça com qualquer coisa, desde creme de barbear até desinfetante de privada. As toalhas, com aquele cheirinho de mofo que só a casa da praia oferece. Aí, uma bela macarronada pra entupir o bucho e uma dormidinha na rede pra adquirir um bom torcicolo e ralar as costas queimadas. O dia termina com uma boa rodada de tranca e uma briga em família.

Todo mundo vai dormir bêbado e emburrado, babando na fronha e torcendo, pra que na manhã seguinte, faça aquele sol e todo mundo possa se encontrar no mesmo inferno tropical...

Qualquer semelhança com a vida real, é uma mera coincidência."

quarta-feira, 10 de junho de 2009

PAVIO LOOOOONGO

Hoje é mais um daqueles dias que eu poderia falar sobre "trocentas" coisas, só estou decidindo por qual delas começar. Talvez, falar a respeito dos pensamentos na ordem em que aconteceram seja uma boa.

Um mês, um mês e pouco atrás, uma sucessão de pequenos fatos fez com que aquele meu velho "senso de reconhecimento de caráter" me alertasse pra algumas coisas. Ele me fez perceber o quanto os seres humanos "adultos" (qualidade que deveria levar em conta o amadurecimento, mas neste caso trata-se apenas de acúmulo de idade) são inseguros quando não deveriam ser.

Não posso dizer que "revivi meu passado", mas revi um filme antigo que parecia estar sendo refilmado. Sei que as pessoas entram na vida da gente com um propósito e cabe a nós sabermos qual é. Um tempo atrás, ouvi que "precisava ter mais paciência com a Isadora e mais confiança nela e em mim". Achei estranho ouvir isso, já que as coisas pareciam estar indo bem. Só pareciam. A Isa, apesar de estar "boazinha" em casa, estava me dando trabalho na escola (não só a mim, como à professora e à coordenadora da educação infantil também) e eu estava praticamente sem saber o que fazer.

Comecei, então, a prestar atenção no que se passava à minha volta e percebi o propósito de uma das pessoas que tinham "surgido" na minha vida. Percebi que o propósito do surgimento e da permanência (provavelmente temporária) dessa pessoa na minha vida era me mostrar algumas coisas que melhorariam as coisas com a Isa, além da minha autoconfiança latente.

Triste foi a forma que a pessoa mostrou isso. Um adulto inseguro DEMAIS, que não sabe o lugar que ocupa no coração das pessoas, que precisa chamar atenção como se não houvesse mais ninguém por perto ou como se todos os que estavam, quisessem ou fossem obrigados a notar sua presença e ouvir suas palavras (muitas vezes ditas de forma ou em tom de voz inadequados à situação).

Enfim, há algum tempo eu não sentia vergonha alheia, mas acabei sentindo, por vários dias. Triste, bem triste, porque, afinal, eu "era assim" quando estava saindo da adolescência. O medo de não ser aceita, o medo de passar por preconceitos, o medo de alguém falar mal dos filhos, o medo de "não dar conta do recado", a necessidade de fazer dos filhos um espelho que nem reflete tanto assim a própria realidade, a carência de atenção, de grana, de pessoas que ouçam o que você diz e sigam o que você pensa... pelo que notei são muitas as circunstâncias que influenciam um ser humano a ponto de fazer com que ele "faça feio" quando quer fazer bonito.

Essa situação teve tanto o seu lado bom quanto o mau: o bom foi a melhora da Isadora ante a mudança na forma das atitudes minhas e dela, e também saber que alguém que sabe e entende o que eu vivo pode me ouvir de vez em quando (é péssimo você falar com quem não conhece efetivamente uma realidade... a pessoa sempre dá uma "viajada" e sempre acha a situação "mais simples do que parece"); o lado mau foi saber, em pouco tempo (o "pouco tempo" é a parte boa da parte ruim), que a pessoa achar que me manipula e que pode ser oportunista, além de se achar no direito de ficar brava quando toma um "não" (mesmo que o não tenha sido acidental)... De qualquer forma, sou grata por ter visto os 2 lados, assim me lembro de aprender coisas novas e de não esquecer que todo mundo tem defeitos (até meus amigos rs).

Só sei que fiquei chateada por ter percebido que a pessoa não é quem se mostrava ser e que parece ter vergonha ou qualquer coisa desse tipo de ser quem é, de viver como vive. Mais chateada ainda pelo fato dela não conhecer seu lugar no mundo (dela e de quem lhe cerca) e de ser insegura ao ponto que é em relação às coisas do cotidiano. Essa situação me fez lembrar da tia Léa querendo que a Fabíola fosse a melhor do mundo em tudo... quase a Isa ia começar a passar pela mesma história ridícula de competição: o que o filho dos outros faz ia estar sempre bom, mas desde que a dela fosse a melhor naquilo que os outros são só "bons" mesmo. Dei um jeito de cortar. Aprendi o que era pra ser aprendido e "sutilmente" mudei a situação.

Umas duas ou três semanas depois disso, o contribuinte genético deu o "ar da graça" com as indecisões e com o velho mau hábito de acreditar que a filha está à disposição dele. Queria começar a resolver as coisas por telefone de novo: pasmem! Depois de altos canos dados na menina por não ligar, por dizer que vinha e a largava esperando, por afirmar que não se interessa pela vida dela e insistir que a menina tem que aprender, aceitar e gostar das coisas que ele faz e como faz essas coisas, ele acha que tem o direito de ligar e dizer "estou passando aí tal dia". Faça-me o favor né! Foram 2 dias (que pareceram duas décadas) de "discussão" por mail. Na visita mais recente (que já deve fazer 1 mês, depois de não ter aparecido por uns 2 ou mais), ele parecia um maltrapilho. Cabelo sujo, roupa encardida e ensebada, chacoalhando a cabeça de um jeito estranho... e a Isinha aflita, querendo pegar a Gata a qualquer custo pra não ficar sozinha com ele (e eu atenta a tudo atrás da porta do meu quarto enquanto deixava as madeixas lisas). Ela não queria nada dele ao que parecia. Não pegou brinquedo, não se ouviu a menina contando nada da escola pra ele e muito menos ele perguntando qualquer coisa. O que se ouviu foi a Isa comentando que a Gata tinha esquecido dele porque nunca mais ele tinha vindo aqui (!!!) e ele resmungando que "se ele não está bem ele prefere não vir".

Se for pensar em "estar bem" ou não, eu deveria ter mandado a Isa pra adoção "temporária"... quanto e quanto tempo eu não fiquei mal, ahn? Até parece que pai e mãe têm o direito de "fugir" dos filhos e da responsabilidade de educá-los e criá-los de forma digna e decente. Tem coisas que não dá pra acreditar, não dá pra conceber.

Só sei que a Isa detestou o que viu. Disse que o pai estava feio e chato. E, uma semana depois disso, o cara se acha no direito de exigir que eu atenda telefone pra ele marcar visita de última hora e atrapalhar todo o final de semana da gente. Digo atrapalhar pelo simples fato de que durante uns 4 anos e meio, eu não marcava nem inventava nada de fds pra ele poder vir ver a menina "se quisesse". Quantos e quantos fds ele não veio e não ligou e quantos outros mais ele ligava na sexta no sábado à noitão pra dizer que vinha aqui na manhã seguinte? A Isa perdeu vários passeios de fds por conta da atitude dele e um "belo dia" eu decidi que ele não ia mais bagunçar a vida dela. Foi então que falei pra ele marcar a visita por e-mail, até quinta de manhã, porque depois disso a Isa já teria coisas programadas.

Parece que ele não acreditou e resolveu que a coisa tem que sair do jeito dele e não do jeito que tem que ser. Qual o jeito que tem que ser? Eu digo: tem sábado letivo na escola e a Isa não pode faltar; tem provas mensais e bimestrais para as quais a Isa precisa estudar; tem um monte de filmes no cinema que ela quer assistir (até Anjos e Demônios, pra vocês terem uma idéia das coisas que ela gosta/presta atenção); tem livros novos que ela pediu e ganhou pra ler; tem feirinha da Paulista e do Center 3 pra passear; casa de bisavós e padrinhos pra visitar. Vocês acham que eu vou permitir que ele, efetivamente, altere a vida dela por conta da vontade dele? Já basta a ausência voluntária dele. Ele tem, como qualquer pessoa, o direito e os momentos dele pra ver a Isadora. Porém, ELA tem o direito e os momentos dela de viver a vida e cumprir as responsabilidades que são dela, próprias da idade dela.

Num dos e-mails, disse pra ele que a Isa não gostou do que tinha visto na última visita. A resposta foi: "sou assim e não vou mudar". Então tá né! Se ele "é assim" (matrapilho e adorador de chacoalhos estranhos de cabeça) e não vai mudar, sinto muito. A Isa é asseada, vaidosa, tem compromissos a cumprir e isso não vai mudar também. Afinal, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é (ou o que afirma ser).

Obviamente a discussão por e-mail não levou a nada, como qualquer discussão, sobre qualquer assunto, em qualquer circunstância, com o Gustavo, nunca leva a nada. Eu ainda preciso terminar de aprender que a preocupação e os cuidados com a Isadora, nesta vida, vêm de duas pessoas: eu e minha mãe. O resto, acha bonitinho, fala o que pensa, acha que pode fazer o que quer, se ofende com alguns nãos, mas NINGUÉM, NINGUÉM "mete a mão na massa" pra ajudar efetivamente, porque efetivamente se preocupa com ela e não com o próprio umbigo. Ah, sim: a Patrícia (professora) e a Rose (coordenadora) têm sido ótimas com a Isa, como a Fernanda (professora de 2008) foi. Mas a preocupação "profissional" é completamente diferente da preocupação "pessoal". Não é desmerecer ninguém, é simplesmente constatar que são preocupações diferentes apesar de serem generosas (= não egoístas e não egocêntricas).

Quando as pessoas conhecem a fundo os papéis que desempenham na vida de uma criança e na formação da personalidade de um ser humano em desenvolvimento, não existem mal-entendidos (o hífen sumiu disso? o plural correto seria "males entendidos"? rs). Quem tem consciência do que é colaborar e trabalhar para a formação de uma pessoa digna, responsável, honesta, decente, educada, etc etc etc, quem conhece seu papel, não faz feio. Pode errar sim, porque somos todos humanos, mas sabem que não têm motivo (nem razão) pra agir de forma que não seja o bem da criança. É assim que as coisas são e é assim que elas tem que ser. E, no fim, alguém sempre tem que fazer o serviço sujo de ficar atento a quem e ao que pode ser prejudicial a essa boa formação e FILTRAR quem e o que vá ou possa fazer algum mal ou acarretar prejuízo à criança. Não sei se feliz (pra Isa) ou infelizmente (pra mim), esse papel (dentre outros) coube a mim. E vou fazê-lo até que ela ande sozinha.

Dois dias depois dessa, sem eu sequer ter tido tempo pra respirar, numa tentativa de melhorar as coisas, elas acabaram piorando ainda mais. Há meses estou pra receber honorários de uns processos do Rubens. Há meses não estou recebendo. Há meses existe a afirmação de que "estou descontando as assistências médicas". Gente, eu não sabia que empregador era banco (apesar de bancos serem empregadores). É banco que joga com o dinheiro da gente (mais do que deveria), mas patrão não tem o direito de fazer isso. Não recebi. Peguei pra acompanhar os processos em que o Rubens foi nomeado e eu fiz os laudos. São mais de 30. Cinco deles não consegui acompanhar e 23 (sim, 23) tem notícias de alvarás, guias de depósito, transferência de valores, mas não constam como recebidos na minha listagem.

Liguei pro meu avô pra pedir a ele que conversasse com o Rubens, já que o cara resolveu gritar comigo no final do ano por causa de assistência médica, sendo que em setembro havia recebido um processo que eu fiz e não havia repassado meus 25%. Fiquei fula e quem está por perto sabe a atitude que tomei, o que dispensa maiores comentários. Não falei com o Rubens pra não ouvir grito sem razão de ser, acabei ouvindo merda sem razão de ser do meu avô.

Ele está enciumado (ou sei lá eu o que) de eu estar trabalhando em mais um lugar que não é o escritório dele; acha que eu tenho "obrigação" de aturar desaforo e desonestidade de gente incompetente que eu não confio; acha que me "financiou durante todos esses anos"... mas se esquece que são 8 anos de economia em INSS e FGTS. Mas parece que lesar legislação trabalhista e direitos do trabalhador, pra ele, não significa nada com tudo o que ele disse. O resultado foi ele bater o telefone na minha cara e não fazer absolutamente nada pra ajudar naquilo em que foi solicitado (depois me diz e diz aos 4 ventos que sempre ajuda todo mundo e nunca quer nada em troca: aham! Tá! Agora conta a do português pra ver se tem graça!).

Além disso, óbvio que minha avó não consegue (ou não quer) enxergar a realidade das coisas e acha que o Rubens é "muito bonzinho" e que ela "duvida que ele tenha gritado comigo". Aham! Tá! Agora mais uma do português, por favor! Falou tanta bosta pra minha mãe, insinuou que a Isadora foi um grande erro na minha vida (principalmente por eu não ter casado com o Gustavo e não ter me sujeitado a comer merda "em nome da moral e dos bons costumes", pra "família" não passar "vergonha" de ter uma mãe solteira como integrante).

Não é que a cara de pau foi além? Ligou em casa na quinta pra saber a hora que a Isa ia dançar. Pelamord né! É outra que pensa NELA, em quando ELA quer ver a Isa, em quando ELA acha que a Isa quer ou precisa de alguma coisa. Pqp! Tudo bem, pavio looooooooooooooongo desta vez. Sexta avisei do horário. Sábado eles apareceram. Se estivéssemos na Índia, poderíamos dizer que tinha gente arrastando o nariz no chão do mercado, e não éramos eu e minha mãe, não.

Eis que surge a frase mais cara de pau do universo: "tem impugnações pra você responder". Puta que la mierda! Eu desfaço cagada do Rubens, do Norton, do Luciano, do Cristiano, etc e NIGUÉM pode responder uma impugnação de alguma coisa que não vai ter que ser consertada? APAAAAAAAAAAAAAAAAAputaquepariu! Me rebelou, mas respirei e respondi "e laudos?". Eu quis dizer que impugnações não me interessam. A pessoa que ele confia, que ele escolheu como sócio e que ele sujeita os outros às besteiras, está lá, dentro do escritório dele, como sócio dele. Se o cara é tão competente e tão bom, porque não responde às impugnações de alguém que ele financiou por tanto tempo? Estou, definitivamente, sem paciência.

Minha sorte são os identificadores de chamada. Atendo quando e se quero o telefone e, garanto que nesse caso, não estou atendendo. Corri de confusão e estresse por muito tempo e agora que consegui, não é insegurança e ciúme alheios que vão me fazer sair da minha paz. Se eu fico nervosa? Óbvio, né? É meu dinheiro que está indo pelo ralo (da reforma da casa dos outros) e minha paciência que tem que se duplicar quando já está por um fio.

Gosto de fazer laudos, mas também gosto de receber pelos laudos que faço. O que dependeu do meu avô, até hoje, me foi pago. Mas e o sócio dele? Eles dividem tudo a 50%, de forma que 50% da irresponsabilidade do outro é do meu avô também. É f*** viu.

Dá pra notar que acabei voltando ao ponto da primeira parte do texto? Vocês conseguem ver que é muito feio e complicado lidar com pessoas "adultas" (pela idade cronológica) inseguras e que não conhecem seus lugares no mundo? Dá pra notar quantas besteiras as pessoas fazem por não conhecerem seus lugares pessoais e profissionais nos mundos a que pertencem? Digam-me quantos malefícios as ações de pessoas assim podem gerar a elas e às pessoas que elas "dizem" que amam, que se importam, que gostam? (Imagine que malefício pros próximos acaba sempre se tornando benefício do "inimigo" ou adversário... e acho que isso acaba ferrando mais ainda as idéias dos inseguros e "perdidos").

(Obs: Não citei o que aprendi de bom e de ruim com as duas últimas situações por 2 motivos: 1. creio já ter esgotado minha fonte de aprendizado nessas situações; 2. estou tão brava que prefiro não ficar pensando muito pra saber se esgotei ou não a fonte de aprendizado nessas situações.)

O interessante é que, principalmente nas duas primeiras situações, eu pensei "já fiz isso" ou "já fiz algo parecido com isso" ou "já passei por isso ou coisa bem parecida" e percebi que eu também já não soube meu lugar nos meus mundos (pessoal e profissional) e eu também já fui insegura ao ponto de fazer as coisas que foram feitas pelas pessoas que citei no post.

Hoje, sei que tenho a quem agradecer (e agradeço dioturnamente - ou diuturnamente?) e sei que muita coisa dependeu de mim, se é que não foi "tudo" (incluindo os ouvidos livres e a cabeça limpa pra ouvir tudo o que me foi dito, assimilar e aplicar na minha vida). O que me deixa mais passada é o fato de que se eu, tão "imperfeita", tão "errada", tão "nervosa", tão "insegura", tão "prepotente e arrogante", tão "indecisa", tão "medrosa", tão "irresponsável", tão "egoísta", tão "brincando de Deus", tão "teimosa", dentre tantos outros defeitos que já foram usados pra me qualificar, consegui melhorar, progredir e evoluir como pessoa, essas pessoas que são tão "boas", tão "perfeitas", tão "incompreendidas" já poderiam ter evoluído muito mais que eu não é mesmo?

Como é bom não ter espelho em casa e ter um monte de umbigos pra poder prestar atenção e descer a boca! rs

Só pergunto uma coisa: você, que está (está mesmo?) lendo, SABE SEU LUGAR NOS SEUS MUNDOS?

Bjo.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

SONHOS ESTRANHOS

Sabe quando a gente tem aqueles sonhos com pessoas que já morreram e com pessoas que ainda estão vivas, e tudo vira um emaranhado de gente com situações sem pé nem cabeça? Pois é, tive um desses esta noite.

Sei que minha cabeça anda um turbilhão e que o subconsciente trabalha (até demais) nessas épocas. Mas, também sei que, toda vez que sonho coisas assim, alguma explicação eles hão de me dar, independente da interpretação que meu Livro dos Sonhos me der num primeiro momento.

Segundo o livro, terei êxito comercial e o dia de hoje não é nem favorável, nem desfavorável, mas o dia 1 de cada mês tem como significado "será bom". Sendo assim, não vou ficar martelando muito nesse sonho estranho.

Só sei que ele me fez levantar de mau-humor (isso ainda tem hífen ou não pelas novas regras de Gramática? rs) e que já fiquei tempo demais na frente do pc tentando colocar os pensamentos e o humor em ordem.

De qualquer forma e mudando de assunto...

Andei relendo vários dos meus posts antigos e percebi como eu me divertia ao escrever aqui e como este blog me foi útil depois que deixou de ser o cor-de-rosa e salmão "How my day was"... Aliás, até um tempo atrás eu sei que se eu digitasse isso na barra de endereços, caía na minha antiga página. Hoje, nem sei mais se ainda funciona rs.

Boa semana pra vocês.
Bjo.

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