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Novo símbolo da Neurodiversidade (Asperger/Autismo) - eu não gosto.
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[EDIT] Se você for AHSD e se encaixar na maior parte do texto, talvez queira procurar um psiquiatra especialista em TEA - Transtorno do Espectro Autista na sua cidade ou região para fazer a avaliação e descartar ou confirmar sua condição de aspie. Os AHSD são neuro...divertidos também por conta do funcionamento cerebral diverso do funcionamento típico ou padrão, mas você ainda pode ser duplamente excepcional. E isso é muito legal. Experiência própria. Agora, ao texto!
Vocês sabem o que é uma síndrome?
Para começar, vamos falar sobre o que uma síndrome NÃO É. Síndrome NÃO É DOENÇA. Portanto, NÃO TEM CURA. Feito esse ligeiro esclarecimento, vamos ao conceito positivo, ou seja, o que a síndrome é.
Síndromes são conjuntos de características que identificam certos tipos de pessoas no mundo. Essas características independem de uma causa ou origem. Ou seja, não importa de onde ou por que essas características se juntam, importa é que elas se juntam e caracterizam as pessoas. Características não têm cura. Você não fala para alguém com cabelo crespo (ou liso) “curar” aquele tipo de cabelo, ou a cor de pele ou o tamanho do pé ou o formato da unha do dedo médio. Cada um tem as suas características próprias e são essas características que, apesar de fazermos parte de diversos grupos ao longo da vida, nos distinguem como indivíduos. Por exemplo: morenos têm cabelos escuros, loiros têm cabelos claros, ruivos têm cabelos tingidos (rs). Essas coisas não são curáveis. Você não fala para alguém que tem heterocromia que a pessoa precisa “curar o olho que tem cor diferente”, nem para quem tem síndrome de Down que ele precisa curar o formato de olho que o identifica frente a pessoas comuns. A síndrome de Asperger tem como uma das características a deficiência nas habilidades de interação social. A síndrome de Down tem como uma das características a hipotonia (fraqueza) muscular. A AIDS (SIDA, em Português, Síndrome da ImunoDeficiência Adquirida) tem como uma das características a falência progressiva do sistema imunológico.
São três síndromes, ou seja, três conjuntos de características específicas para três tipos de pessoas diferentes, não são doenças, não têm cura. Doença, de acordo com a OMS, é “ausência de saúde”. Ora, síndromes não são “falta de saúde”. Como todo e qualquer ser-humano, aspies, downs e soropositivos podem ficar doentes, mas não são doentes. Pneumonia e tuberculose que frequentemente atingem os HIV+ são doenças; a AIDS não é. A tendinite, bursite, atrite, etc, que podem atacar os Downs são doenças, a síndrome de Down, não. E a mesma coisa é com a síndrome de Asperger, não é doença, apesar de haver doenças que podem afetar seus portadores com mais frequência (ansiedade, depressão, anorexia, etc).
Além disso, síndrome também é diferente de transtorno, e ambos são diferentes de distúrbio.
Transtornos são causados por disfunções na região frontal do cérebro, gerando perturbações psicológicas ou psiquiátricas. Já os distúrbios são atividades cerebrais anormais violentas que geram comprometimento neurológico em uma ou mais áreas da vida.
Falei tudo isso porque a maioria das pessoas, em primeiro lugar, fica triste (parece até que morreu alguém) quando descobre que alguém é Asperger ou autista; depois, as pessoas começam a procurar uma cura e, quando não acham, ficam tentando fazer com que o aspie ou autie seja da forma que elas querem ou esperam que sejamos, da forma que a “sociedade aceita”, para não se sentirem constrangidos, para não “passarem vergonha”.
Pais, mães, tios, avós, primos, parentes, amigos, conhecidos, chefes, colegas de trabalho: PAREM! Essas tentativas serão sempre frustradas. Nós não precisamos ser curados. E, para ser bem sincera, a maioria de nós nem quereria ser curada. Sabem por quê?
Porque nós passamos a vida tentando ser quem vocês querem que sejamos. E isso dói.
Porque nós passamos a vida tentando fazer as coisas do jeito de vocês. E isso dói.
Porque nós passamos a vida tentando agradar vocês de toda forma possível. E isso dói.
Porque nós passamos a vida tentando nos adequar aos padrões sociais de vocês. E isso dói.
Porque nós passamos a vida tentando ser normais e nos encaixar. E isso dói.
Porque nós passamos a vida tentando ser e fazer tudo o que é “normal”. E isso dói.
E isso tudo dói porque não queremos decepcionar vocês, não queremos magoar vocês, não queremos deixar vocês tristes ou irritados ou preocupados ou frustrados ou nervosos. Dói porque queremos que vocês se sintam amados e queridos e, na maior parte do tempo e das vezes que tentamos, nem isso conseguimos fazer. Dói porque seria mais fácil para todo mundo se fôssemos comuns, “padrãozinho”, neurotípicos, mas nao somos!.
Cada vez que vocês querem uma cura e tentamos nos adequar, é um pedaço de nós que fica com uma ferida aberta que leva ANOS para fechar (isso se e quando fecha, porque muitas ficam abertas para o resto da vida ou até que descubramos um “elixir cicatrizante” que só nós mesmos para “fabricarmos” ou encontrarmos).
Cada vez que vocês desejam intimamente ou rezam a Deus para que nós, aspies, sejamos normais, vocês estão querendo anular um pedaço de nós, nossa personalidade, nosso jeito de ser... pedem a Deus para anular as características que fazem com que nós sejamos nós. Vocês, pais e mães, nos viram nascer, nos educaram e nos criaram, nos alimentaram, nos deram educação e instrução e sabem que, se fosse para nós mudarmos, já teríamos mudado, logo após a adolescência. Já teríamos amadurecido (de verdade e não precisaríamos “fingir” o tempo todo que somos adultos durões e sabidos e maduros e etc). – Dizem que os autistas não sabem brincar de faz de conta? Pode até ser, mas os Aspergers sabem e é o que fazemos de melhor: interpretar papéis diversos para nos adequarmos aos ambientes sociais em que somos obrigados a estar e conviver. Isso tem nome: ECOLALIA SOCIAL. E ecolalia social é uma característica da nossa síndrome. É uma característica nossa. Imitamos o comportamento do grupo para poder estar lá com o grupo. Isso não significa que nos sintamos parte do grupo. Na maioria das vezes, não nos sentimos. Nem no grupo familiar (em verdade, a família tende a ser o grupo mais estressante, porque nos cobram satisfações, comportamentos, presença, etc – e é o grupo que mais parece NÃO saber respeitar limites, de ninguém, principalmente dos que não se encaixam nos padrões estabelecidos pelos que “nasceram antes”).
Proponho um exercício:
Coloquem-se no nosso lugar e tentem ver o mundo com os nossos olhos e sentir o mundo com os nossos sentidos. Se vocês conseguirem se colocar no lugar da gente, nem que seja por alguns segundos, perceberão o quanto é difícil para nós vivermos num mundo neurotípico (ou “normal”, como todos costumamos dizer). O grande lance é: nós, neurodiversos, TAMBÉM SOMOS NORMAIS, só que um “normal diferente”. Típico significa igual; diverso significa diferente. Os neurotípicos vêem e sentem o mundo e as coisas em um ou poucos níveis de amplitude e profundidade. Nós, os neurodiversos, vemos e sentimos o mundo e as coisas em MUITOS níveis de amplitude e profundidade. Neurotípicos olham, às vezes até enxergam, mas não vêem “além”; nós, neurodiversos, olhamos, enxergamos e vemos além, em detalhes. Neurotípicos ouvem, mas não escutam; nós ouvimos, escutamos tudo (até o que não queríamos ou gostaríamos de escutar) e, para piorar, “ressoamos” todos os sons, ruídos e barulhos, cores, odores, temperaturas e texturas dentro de nossos ouvidos, cabeça, cérebro, coração, pulmões, sistema circulatório e digestivo por mais tempo, por muito tempo. E isso nos esgota, nos cansa muito. É por esse monte de coisas que vemos, ouvimos, sentimos, tudo junto, misturado, ao mesmo tempo e por tempo prolongado que nos cansamos com mais facilidade que neurotípicos. Até mesmo no trabalho, a intensidade da nossa dedicação é muito grande e forte e acabamos nos cansando mais em menos horas – mas isso não significa que trabalhemos menos, que nosso rendimento seja baixo ou que nosso trabalho seja de menor qualidade. Não somos preguiçosos, só nos cansamos com mais facilidade. Não temos “cansaço crônico”, temos hipersensibilidade sensorial e quando nos sentimos sobrecarregados, ou seja, quando recebemos excesso de informação do ambiente externo, temos um overload sensorial e podemos ter: a) um burnout (exaustão física e mental, ressaca social); b) um shutdown (o cérebro “trava”, assim como um computador com diversas janelas, programas e abas abertas ao mesmo tempo) e nos isolamos “até passar” a sobrecarga; ou, c) ter um meltdown (colapso nervoso/crise). É na hora do shutdown que as pessoas nos julgam e ficam insistindo para que compareçamos a eventos sociais e é na hora do meltdown que as pessoas sentem vergonha – ou raiva – de nós.
Não é fácil ser como nós. Mas ser como nós não é “chato” como ser como vocês. E é agora a hora de responder à pergunta que fiz lá em cima: “Por que a maioria de nós não quereria ser curado se precisássemos de cura?”
Porque, como qualquer outro ser-humano deveria, nós, aspies, gostamos de nós mesmos, gostamos de ser como somos. É divertido ser como nós. É irritante ser como nós. É inteligente ser como nós. É esquisito ser como nós. É diferente ser como nós. É legal não ser como todo mundo. É intrigante ser “imprevisível”. É interessante ser como nós e saber tudo sobre como é ser como nós. É ótimo ser focado em alguma coisa útil (conhecimento é SEMPRE útil). É bom ser bom, honesto, companheiro, bobo, inteligente e lerdo ao mesmo tempo, falar bobagens e rir de si mesmo. É engraçado rir de tudo (até da cara dos outros e até nas horas mais impróprias). É leve ser adolescente para o resto da vida. Vocês podem não gostar do jeito que somos, mas nós, a maioria de nós, pelo menos, gostamos de como somos. Nós nos aceitamos e nos amamos, intimamente, não precisamos mostrar isso para os neurotípicos.
E por que a gente não mostra? Porque tudo o que faz parte de nós, que gostamos em nós, é alvo de críticas, julgamentos, esteriotipação, comparação, rejeição... Mas isso é simples de entender: se neurotípicos detonam outros neurotípicos, por que não detonariam neurodiversos? Se não sabem ou não querem respeitar seus iguais, por que respeitariam os diferentes?
Ninguém é perfeito. Neurotípicos têm suas características próprias e nós, neurodiversos, passamos a vida tentando entender, aceitar, tolerar e conviver respeitosamente com essas características próprias dos NTs. Neurodiversos vivem e deixam os NTs viverem. Então, seria legal se os NTs fossem mais recíprocos e, tendo seu cérebro funcionando “normalmente” (será mesmo? rs), tentassem entender, aceitar, tolerar e conviver respeitosamente com as características próprias dos neurodiversos, principalmente os aspies, que são bem anti-sociais, mas são os que mais estão presentes na vida dos neurotípicos (em geral, estamos camuflados, por auto-defesa, ou por sermos ignorantes de nossa condição de NDs).
Essa convivência seria facilitada se mais informações sobre as nossas características fossem conhecidas por mais neurotípicos. E mais ainda se os NTs que convivem conosco não sentissem vergonha de nós por sermos como somos (a gente percebe, mas não fala nada). Pais, mães, familiares, amigos... vocês não têm que (nem devem) nos explicar para os outros como se não tivéssemos voz. Quando somos crianças, não prestamos atenção nessas coisas e, quando crescemos, simplesmente não nos importamos com o julgamento alheio. Para qualquer aspie são RARÍSSIMAS as pessoas de quem a opinião importa. Não nos importamos com determinados padrões sociais. Tendemos a aceitar os defeitos e vicissitudes alheias sem pedir explicações, por que deveríamos nos explicar a terceiros? A pessoa na fila não é importante. A pessoa no trânsito não é importante. As pessoas em um shopping não são importantes. TALVEZ devêssemos nos explicar, SE NOS FOSSE PEDIDO OU PERGUNTADO, em restaurantes ou templos religiosos. Pensem bem. Vocês sentem vergonha de nós e nos constrangem expondo nossa privacidade (sim, ser aspie é NOSSA privacidade e apenas nós temos o direito de expô-la, se quiseremos) para se livrarem de algo que vocês nem deveriam estar sentindo. Isso é muito ruim para nós, quando percebemos, mas mais ainda para vocês que ficam agoniados a troco de banana.
Tentem olhar o mundo com os nossos olhos e vocês perceberão que “os outros” não são importantes. Nós (eu e as pessoas que amo, seus filhos neurodiversos que amam vocês e vocês) somos importantes. Tentem olhar com olhos de amor e tolerância, os outros não-são-importantes.
Nós, aspies, não vamos amadurecer o tanto que todos nós esperamos. Seremos “eternos adolescentes”. Não porque queremos, mas porque nascemos assim. Então, perguntem a si mesmos se vale a pena se estressar por causa de “conflitos de adolescentes”? Vocês passaram e saíram da adolescência. Agucem a memória para voltar no tempo, até a adolescência de vocês. Lembrem do adolescente mais “da pá virada” que vocês conheceram e imaginem que estão lidando com ele e que vocês estão se tornando amigos. Imaginem que vocês estão conhecendo lados desse adolescente “pé no saco” que vocês nem imaginavam que poderiam existir e que esses outros lados são muito legais e ótimos para conviver e que esse adolescente é uma ótima pessoa por baixo do “personagem de bad boy” que ele incorporou para se defender dos brutamontes e para prevenir overloads, burnouts, shutdowns e meltdowns.
Passem a ver os seus aspies exclusivos (filhos, irmãos, pais, maridos, primos, esposas, namorados, namoradas, amigos, colegas de trabalho, etc) com os mesmos olhos que estariam olhando para o adolescente mais pé no saco que conheceram no passado e redescobriram nessa reflexão. Vocês vão conseguir relaxar, seus aspies vão se sentir mais relaxados e menos pressionados, a relação de vocês vai melhorar, vocês vão conseguir ver mais amor nos olhares fugidios e “distantes” dos seus aspies e vão conseguir amá-los de modo mais natural, mais espontâneo e menos estressante. Quando vocês conseguirem ver os aspies com os olhos deles, tudo ficará mais fácil e leve.
Aspies tentam ver vocês com os olhos de vocês. Ô, se tentamos! E como tentamos! Mas os olhos de vocês são muito duros, não têm cores, são ásperos, rígidos, retos, cheios de bicos e espinhos, e nossos olhos ficam muito espremidos nas órbitas oculares de vocês. E isso dói. Não nos importamos de emprestar nossos olhos a vocês quando conseguirmos, independentemente da forma que nossos olhos cheguem a vocês, seja por uma arte visual, seja por uma música, por um abraço, por palavras faladas ou escritas, seja observando vocês ou estalando os dedos ou andando nas pontas dos pés, por querermos dizer mais do que a boca consegue falar.
Se vocês olharem o céu e conseguirem sentir o abraço da imensidão do universo, já é um começo.
That’s all folks.
P.S.: E depois de vários dias de estresse, acho que consegui colocar num texto o que preciso colocar em um vídeo até segunda-feira, dia 04. Tomara que eu consiga, que eu não fique com voz de criança como nos últimos 2 vídeos que enviei para uma amiga hehe