Meses atrás, um amigo publicou em um grupo no Facebook um texto com ideias bem interessantes sobre como é ou pode ser o processo de construção dos nossos pensamentos. Faz bastante tempo e, até hoje, não sei responder a pergunta dele. Está sobrando informação e faltando organização, fatos que me obrigam a parar (tudo). Cheguei no momento do jogar fora o que não serve para conseguir organizar o resto.
Percebi que, em fases de "expurgo", o início é sempre o fim. Por quê? Porque o fim é mais recente e, consequentemente, a quantidade de informações e lembranças sobre fatos recentes é muito maior que a quantidade armazenada de coisas mais antigas. E, também, porque para enxergar o conteúdo da gaveta de baixo, você tem que fechar a de cima. Não importa quanto tempo leve, desde que não se ignore nada do que está lá. Isso deve ser feito em todas as "gavetas", até que não reste nada que não seja essencial.
Há quase quatro anos, iniciei uma "jornada de autoconhecimento" (e acho que já falei disso aqui no blog) e, hoje, meu estado é bem parecido com o de 2016, com a diferença de já ter percorrido diversos caminhos e ter encontrado diversos atalhos - o que não facilita o processo atual, porque cada circunstância, cada acontecimento, cada pessoa, cada emoção, cada época, cada dia, são únicos e, nem sempre, acertos passados serão acertos futuros.
O fato de não confiar cegamente na experiência anterior, obriga-me a exercitar a criatividade para "desenvolver meu dia-a-dia" (Karol Conká, diva!). As experiências passadas nos ajudam a prever efeitos e consequências de algumas decisões e ações, mas não garantem nada. Algo que deu muito certo num dia, pode dar muito errado depois, porque nada é exatamente igual. Ainda bem!
A velocidade com que as coisas aconteceram para mim, de 04.10.2019 para cá, não me permitiu absorver e assimilar totalmente os detalhes das partes e as partes do todo. Há muito a ser "desengavetado", analisado e organizado. Há muito a ser jogado fora, até mesmo para preservar minha saúde hepática rs.
Pessoas vieram, pessoas ficaram, pessoas se foram, pessoas voltaram. Ainda não consegui olhar "the big picture" a respeito disso. Não sei o quanto agi certo, o quanto agi errado - aliás, não sei nem o quanto agi e o quanto me omiti, o que dificulta o estabelecimento de um juízo de valor acerca disso e de todo o resto também, se considerarmos que cada ação ou omissão, certa ou errada, produz consequências distintas.
Um tempo atrás, tive uma conversa sobre quebra de rotina com alguém que não me lembro quem foi e minha conclusão foi que, meu problema com quebra de rotina não é INSERÇÃO mas, sim, EXCLUSÃO. Lembro de ter chamado de "quebra negativa de rotina", a situação em que você se habitua a fazer algo e, de repente, aquela coisa lhe é tirada. A primeira vez que me lembro de ter ficado borocoxô por uma "quebra negativa de rotina" foi quando terminei a faculdade de Direito. Eu estava com 22 anos e estava na escola desde os quatro. Não sabia fazer outra coisa a não ser estudar. Fiquei perdida, desorientada, questionando "o que eu ia fazer da vida?"
E por que eu me senti tão mal em 1999 e porque me sinto pior com uma exclusão do que com uma inserção de atividade? Simplesmente porque a quebra negativa da rotina tira suas perspectivas, seu referencial, seu senso de organização - pensando aqui, será que isso tem a ver com o sistema propioceptivo? Porque a sensação é meio essa, de não saber bem onde você está, de onde vem, para onde vai, o que precisa fazer...
Eu sempre fui de fazer um monte de coisas ao mesmo tempo, sempre fui de estudar bastante, trabalhar muitas horas por dia, cuidar da filha, da casa... - e aí, fiquei sem trabalho. Mais uma quebra negativa. É um saco ficar "sem fazer nada". Ler, fazer tricot, escrever...deveriam ser apenas lazer para mim, não meios de "ocupar as horas livres". O desemprego/falta de trabalho técnico anulou o prazer que eu sentia com os meus hobbies. E, entrei mais fundo na vibe ruim da rotina negativa. O que estava péssimo lá em 2009/2010 (depressão, anorexia, ansiedade generalizada) não melhorou muito com o passar do tempo, até que consegui "expurgar" uma boa parte do que não prestava e me reorganizar um pouco.
Os espíritas falam muito em "leituras edificantes", como sendo aquelas que nos fazem melhorar, evoluir, progredir, aprender, etc. Foi assim que comecei, lá em 2016. Não exatamente leituras "religiosas", mas leituras que me ajudassem a olhar para mim sem medo, sem raiva, sem "trauma", etc. Não é fácil olhar para si e admitir os próprios defeitos. Também não é fácil aceitar os próprios defeitos. Menos fácil ainda é perceber e reconhecer que pessoas que você despreza estavam certas sobre você. Porém, uma vez que você descobre seus próprios mecanismos de autopercepção e autoaceitação, tudo o que era difícil fica fácil e tudo o que era feio deixa de ser.
E, para mim, os padrões e os mecanismos de autopercepção e autoaceitação surgiram "de trás para frente", "do fim para o começo", como citei no início. Aprendi muito sobre mim nos últimos quatro anos, muito mais do que eu havia aprendido nos 39 anos anteriores. Aprendi, sobre mim, que eu deveria usar o meu "lado ruim" para preservar a mim e à minha família, em vez de insistir em usar o lado bom e compreensivo, e acabar dando chance para gente sem vergonha na cara fazer o que fez. Nenhum "justiceiro social" é muito reto de caráter não. Narcisistas, idem. Gente insegura, invejosa, com processamento precário de lógica e baixo uso de racionalidade... "o ser humano em vertigem"... em outros tempos, eu teria passado por cima desses tipos como um trator de esteira e talvez devesse ter passado: quando eu era "porra-loca", ninguém tirava farinha comigo, ninguém enchia meu saco, ninguém triscava com a minha filha. Dizia meu Pai (e é a segunda vez que cito esta frase em menos de 24 horas) que "tem medo quem não tem respeito, mas pelo menos não enche o saco".
Se a minha paz de espírito "custar" o que os outros pensam ou falam sobre mim, prefiro que continuem pensando e falando, afinal, a opinião é das outras pessoas (o karma ruim também), não me diz respeito, não paga minhas contas e não condiciona minha felicidade e meu contentamento. Opiniões não são fatos e não são necessariamente verdades - aliás, raramente o são. Na maioria das vezes, atualmente, opiniões sequer derivam de conhecimento, estudo, lógica e, menos ainda, possuem conteúdos coerentes e embasamento fático ou científico. Versões de um fato não são A verdade; são apenas percepções subjetivas dos diversos aspectos de um fato e apenas o fato objetivamente considerado está próximo de ser considerado A verdade. Deixando a Filosofia de lado...
(O texto está sem nexo? Não tem problema, escrevo para mim e só empresto para vocês lerem =P)
Desde que a "força da aceleração" começou a movimentar meus dias, tantas coisas foram inseridas paulatinamente na minha rotina diária e os dias foram sendo preenchidos aos poucos, mas tão consistentemente, que a mudança não foi abrupta, apesar de ter acontecido em curto espaço de tempo. O aspecto negativo dessas mudanças todas, acreditem, era o comportamento de UMA única pessoa em relação a tudo o que fazia parte das "inserções". Dizem que, "quem não sabe fazer, não sabe mandar" e foi numa enrascada dessas que eu me meti, involuntariamente. Sim, foi uma enrascada. Minha cabeça funciona muito melhor e muito mais rápido do que minha boca é capaz de comunicar.
Acredito que eu ainda não saiba lidar com o medíocre. Tolerância e compreensão são facilmente aplicadas de modo racional e consciente, sem subjetividades, quando a mediocridade do indivíduo é involuntária e não percebida e o tom respeitoso pode se prolongar por longos períodos de tempo. Mas, o que fazer - e por quanto tempo fazer - quando a mediocridade confere à pessoa um certo ar de (falsa) "superioridade" moral e intelectual?
Minha atitude inicial foi, numa situação real, exatamente a mesma que teria com a pessoa inconsciente: tolerância, compreensão, respeito. Até que... a pessoa parece ter "confundido" meu respeito com permissividade e, em questão de 45 dias, passou de "pessoa de referência inclusiva" a "pessoa presunçosa e preconceituosa". Era o início do fim.
Quando a pessoa usa o jargão "eles querem que você se sinta mal para que eles se sintam bem", sem se preocupar com os efeitos e consequências de alguma atitude inadequada praticada de forma deliberada, ela se mostra má e inescrupulosa e se torna indigna de respeito. Assim como usa de falsa autoridade e de um pretenso poder para manipular pessoas e situações em detrimento de alguém mais "fraco". Medíocre, huh? Não sei lidar. Aceito sugestões.
"Ninguém chuta cachorro morto", dizem.
A gaveta de cima foi fechada.