#PraCegoVer foto do ator Christian Bale caracterizado como Batman, no set do filme Batman Begins |
Nascida
na década de 1970, filha única, de pai capoeirista voltado para as Exatas e de
mãe musicista, fui criada para pensar com minha própria cabeça, assumir as próprias
responsabilidades, realizar as próprias tarefas, arcar com as consequências dos
próprios atos, ter a própria carreira, o próprio carro, a própria casa, a fazer
o próprio trabalho. Não fui criada para delegar, fui criada para realizar. Fui
criada para ter autonomia, com todos os prós e contras que isso tem. Fui criada
para ser independente.
Apesar
da teoria ser essa, a prática era outra. Meus pais eram bravos pra caramba, me
exigiam demais e, hoje sei que, por causa do Asperger, eu levava tudo ao pé da
letra... e combinando isso com a superdotação, também levava tudo muito a sério
(a quem estou querendo enganar usando os verbos no pretérito, não é mesmo? rs)
Desde
pequena, meu nível de exigência com os outros e comigo mesma sempre foi muito alto
e meu nível de tolerância com erros – dos outros ou meus – inversamente proporcional
ao primeiro. Como tudo na vida, isso tem suas vantagens e desvantagens. Uma das
vantagens (para terceiros) é que eu só vou exigir das pessoas aquilo que eu sou
capaz de dar; em contrapartida, isso é uma desvantagem (para mim) porque raramente
tenho o retorno equivalente. E isso se aplica a tudo, a qualquer coisa que eu
decida fazer. Se for para estudar, estudo até “esgotar o assunto”. Se for para
fazer um trabalho, fá-lo-ei na forma requerida, revisá-lo-ei e o entregarei
limpo, sem erros, esteticamente aprazível e dentro do prazo. Se for para
gostar, eu gosto muito e gosto “com qualidade”; o mesmo se for para desgostar,
é na mesma intensidade. Não consigo ser de meios-termos, parecendo cerveja
choca. Não sou de meias verdades, meias palavras. Não sou mais ou menos. E
também não aceito meios-termos, cerveja choca, meias verdades, meias palavras e
nem nada mais ou menos.
No
melhor estilo Ayrton Senna, se for para fazer algo, ou faço bem feito ou não
faço. Se for para fazer de má-vontade, também não faço. É isso que eu dou, é isso
que quero de retorno. E se não houver equivalência, dou uma segunda chance (mesmo
sabendo que 99,9% dos humanos gostam de errar várias vezes, para terem a
certeza de que estão “errando do jeito certo”), mas não dou a terceira. E, não,
não me importo se agirem comigo da mesma forma que eu ajo. Como eu disse: só
exijo aquilo que dou.
O
mal tem sido que, nos tempos atuais (“pós-modernos”, barulhentos e rápidos
demais para mim), o “fazer bem feito ou não fazer” é valorizado por
pouquíssimas pessoas das quase 8bi que habitam o planeta. Fazer trabalhos em
equipe tem me mostrado isso, desde o
ginásio (atual ensino fundamental 2).
Trabalhar
em equipe, para quem tem alto grau de exigência e para quem está habituado a
arcar com as consequências dos próprios atos, é um inferno. Se você é o
primeiro, fica sem ter o que fazer; se você é o último, é o cara que vai
aparecer para o cliente como “o incompetente que não observou o prazo”. Se você
está no meio da cadeia, vai achar erros anteriores e ter que refazer ou mandar
o trabalho de volta para o desatento que cometeu o erro e vai ter que revisar
de novo e assim por diante até o trabalho ficar correto e poder ser passado
para o próximo colega da equipe.
É-um-in-fer-no.
É
o MEU inferno.
Já
dividi tarefas na escola, na faculdade e no trabalho. Deu caca.
Já
revisei trabalho alheio. Deu caca.
Já
supervisionei as atividades alheias. Deu caca.
Sabe
por quê?
Porque
na criação que eu tive e criação que meus Pais e avós tiveram e que minha filha
está tendo, ensina-se e aprende-se que “se você quer que algo seja bem feito,
faça você mesmo”. O pior de tudo é ter que dar razão para os meus tataravós,
sabe?
Estou
fazendo um treinamento e eles estão ensinando um “método ágil” chamado scrum.
Conforme fui “incorporando” o conceito, o método foi se desenhando sozinho na
minha cabeça e, qual não foi minha surpresa ao perceber, no final do dia, que,
mesmo não sabendo que isso existia, eu aplicava o scrum nas execuções
trabalhistas, em qualquer de suas partes (cálculos, laudos, contestações, embargos
à execução)?
Nesse
treinamento, estamos “aprendendo” a trabalhar em equipe. Cara, que stress.
Todo
mundo ali é gente boa, tanto da turma, quanto da empresa. Mas trabalhar em
equipe não dá! Uns tem muita pressa, outros são muito sossegados; uns não
entendem o que é pedido, outros entendem, mas querem fazer diferente a qualquer
custo; outros não param de falar, outros não falam e, quando o fazem, mentem...
Aaaaaaaaaahhhhhhhhhh!!!
Eu
nunca perdi um prazo processual na vida. Nunca entreguei trabalho diferente do
que foi pedido. Os maiores erros que cometi em foram de digitação. Alguém
consegue imaginar o tamanho do meu stress? Para quem não sabe, em períodos de
stress, fico parecendo adolescente (cheia de espinha na cara), aparece um monte
de cabelo branco, me dá acesso de espirro, me cai a imunidade e eu fico cansada
por nada... e isso me irrita e vira um ciclo vicioso.
Não
gosto de ficar brava com as pessoas, não gosto de saber antecipadamente que o
negócio vai dar errado, não gosto de me estressar. E isso acaba acontecendo,
mesmo a contragosto meu. Tem razão quem diz que não se obtém resultado
diferente fazendo as coisas sempre da mesma forma. O ato de observar tem sempre
o mesmo resultado: aprende-se a antecipar/prever o que vai acontecer em seguida.
Mas não dá para não observar e nem evitar o que decorre da observação.
Eu
e o Batman somos almas gêmeas *saindo corações das pupilas*: somos bons trabalhando
sozinhos.
P.S.¹:
O texto não ficou como eu queria.
P.S.²:
Lembro-me de terem pedido a senha do meu computador em 2012, a pretexto de “consertarem
a internet” e, a partir daí, o perito judicial a quem eu prestava serviços
começou a perder clientes e nomeações, sob alegação que as contas estavam
erradas. Esse perito é pai da pessoa que pediu a senha e que mexeu ou permitiu
que mexessem nas minhas planilhas. Tem que ser muito Mané para queimar o nome, prejudicar
o trabalho e as finanças do próprio pai. Essas coisas não são mais passíveis de
recuperção, mas as minhas planilhas estão “consertadas” – e preservadas bem
longe de gente assim, que mexe no que não é delas.