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"Você vai começar a se curar quando deixar as feridas do passado para trás, perdoar aqueles que cometeram erros com você e aprender a perdoas a si mesmo por seus próprios erros." |
Muitas coisas acontecem na vida e acabamos por não perceber que ou são causadas por nós mesmos, ou, mesmo tendo sido causadas por terceiros, acabamos por perpetuá-las dentro da cabeça e do coração. Tanto para as que nos causamos, quanto para as que nos são causadas, antes de qualquer coisa precisamos do
entendimento sobre como as coisas começaram e por que acabaram de uma determinada maneira.
O entendimento não é tão simples quanto parece. Não basta "pensar" e concluir. Esse
entendimento do qual falo é muito mais "emocional", ele vem da alma, não da mente. E, para alguns, ele acontece de
forma natural; para outros, ele acontece rapidamente após
algum esforço daquele que quer entender; e, para tantos outros (grupo dentro do qual me encontro), ele leva muito tempo para acontecer e requer
muito esforço.
Esse
entendimento é como um "clique". De repente, surge uma ideia luminosa na cabeça, ou aquele tipo de pensamento que temos "como não pensei nisso antes?" ou "por que não me senti assim antes?" e, a partir desse "estalo" é que começamos a efetivamente
entender o que, como e por que as coisas acontecem como acontecem. E é a partir daí que a coisa começa a mudar.
Os pensamentos podem ou não ficar mais fixos na situação que nos incomoda, ou os pensamentos ficam recorrentes, mas apenas por segundos ou fração de segundos, como uma micro-lembrança de que temos que resolver aquilo. Essa coisa nos incomoda, para que prestemos atenção nela, para que busquemos dentro de nós a resposta que, bem provavelmente, estávamos procurando fora de nós, fora da nossa alma, do nosso Eu.
Até que, um belo dia, depois desse processo de auto-observação, autocrítica e, porque não, muitas vezes, auto-punição, você percebe que não precisava ser tão rígido com você mesmo (é, podemos ser indulgentes com nós mesmos, mas, não mais do que somos indulgentes com terceiros); você percebe que não precisava ter se punido por tanto tempo e que sentimentos como culpa, remorso, raiva, rancor, etc, mas principalmente a culpa, não precisavam ter estado tão arraigados no coração.
Quando erramos com alguém é muito fácil pedir desculpas. As desculpas, em geral, não são sinceras. As pessoas têm o costume de pedir desculpas "por educação" e isso tem uma razão bem simples: "desculpas" sempre deixam a porta aberta para que se possa repetir o mesmo erro tantas vezes quantas você estiver disposto a se desculpar. Desculpas são um ciclo vicioso, raramente alguém que se desculpa demais, por tudo ou por quase tudo, vai conseguir se livrar do vício de pedi-las. Fica, como pano de fundo no subconsciente que se pode fazer o que for e, depois, se der alguma coisa errada para alguém, se pode pedir desculpas indefinidamente. (Que feio, pessoa! Fomos ensinados a perdoar 70 vezes 7 vezes - ou algum número parecido, cheio de setes - mas ninguém é de ferro. Erre 490 vezes e veja se seu parceiro vai te perdoar por tudo isso rs.)
Contudo, quando erramos com alguém e aquilo realmente doeu em nós, que magoou, que nos viciou o pensamento e que nos fez culpar a nós mesmos e concluirmos que
NUNCA MAIS vamos praticar aquela ação, meras desculpas não bastam. É preciso pedir
PERDÃO. E é aí que a maioria das pessoas tropeça. Pedir perdão é algo muito, muitíssimo sério para ser banalizado como pedir desculpas ou como se tornou dizer "eu te amo". E, para pedir perdão, requer-se muita
CORAGEM.
Sim, coragem, porque do mesmo jeito que a língua pode ser o chicote da alma, o esmagamento do Eu, do ego e a humilhação, a contrição da alma também pode. E quem é que gosta de se humilhar por arrependimento? Ninguém, não é mesmo? Nosso orgulho, nosso medo, nossa culpa, nosso egoísmo ficam, a todo custo, querendo "proteger" nosso ego e, muitas vezes, cedemos a essa "proteção", afinal, nosso ego sempre dá um jeitinho de tapear nossa alma. As peças que o ego prega na nossa alma são tão ruins, tão...péssimas (não sei nem como descrever), que a alma caleja, se acostuma com toda aquele orgulho, ou medo, ou culpa, ou egoísmo e vai deixando o ego achar que está dominando a situação.
Um dia, a alma se rebela e, então, não vai ter mais jeito. Você vai perceber que chegou a hora que você (ainda) acredita que será péssima, humilhante, "rebaixante" e que você não pode mais adiar uma ação, que é a atitude de pedir perdão. Nesse momento, você já vai saber que não tem escapatória, rota de fuga ou tábua de salvação. Aliás, a "salvação" está, exatamente, no pedir perdão, Mas, isso a gente só descobre depois de pedir. A gente salva a alma, salva o coração, salva nossa paz interior, salva tudo o que há de bom dentro de nós de todo o sofrimento que as "chicotadas" nos causaram. Um destaque a ser feito é para não se preocupar, porque o pedido de perdão É SEMPRE SINCERO, ele vem do coração e da boca do estômago, não dos neurônios e das cordas vocais.
Como já ficou subentendido, a atitude de pedir perdão vai nos fazer sentir pequenos e até minúsculos, de tanta humilhação, Porém, pedir perdão a alguém não nos faz sentir vergonha. Estejam certos. Porém, saberemos se formos perdoados ou não, se pedirmos perdão cara-a-cara. Se formos, será um dia de festa e toda a humilhação da alma será revertida em júbilo (sinceramente, não se de onde estão brotando certas palavras neste texto rs). A sensação de ser perdoado é uma das melhores do mundo. Caso não sejamos perdoados, poderemos ter certeza de termos cumprido nosso dever, tanto para com o outro, como para conosco. Nunca mais precisaremos chicotear a alma, porque
pedir perdão é infinitas vezes mais difícil do que perdoar.
Mas, e quando sentimos necessidade de pedir perdão a alguém que já não está mais no nosso convívio porque foi levado pelo Barqueiro? É, amigo, complica tudo, não é mesmo? Podemos rezar, mentalizar, meditar com intenção de pedir perdão à pessoa, mas nunca saberemos se fomos perdoados ou não. Ou saberemos, caso nosso
grau de entendimento nos permitir acreditar em vida após a vida e tivermos
merecimento para sermos informados se fomos perdoados ou não.
Onze anos atrás, mais exatamente no dia 25 de agosto de 2005, cometi o pior erro da minha vida (não, não tem como cometer outro pior, segundo o meu próprio entendimento rs). Levei ONZE ANOS para ter entendimento e coragem para pedir perdão. Porém, a quem eu queria pedir perdão já não está mais na Terra. Fui lá na Igreja acender uma vela, rezar, "conversar" e pedir perdão... Saí de lá muito diferente do que entrei. Mesmo depois de algum tempo chorando cântaros, eu não tinha olheiras (quem me conhece sabe que eu pareço um panda e que o panda fica maior quando choro ou passo nervoso rs). Aliás, eu não tinha olheiras, não tinha dor nas pernas, nem nas costas, nem mágoa, nem cansaço, nem nada dessas coisas ruins. Tinha vontade de sair dançando, mesmo sem música. Até respirando melhor eu estou.
Ah! Um dos efeitos desse meu ato foi amar a quem eu acreditava que nunca conseguiria amar. E essas duas emoções, esses dois sentimentos (liberdade e amor) são capazes de fazer maravilhas na vida da gente. E o amor não precisa ser só pelo próximo não. Pode ser auto-amor. Aliás, pode ser auto-perdão, que é o mais difícil entre perdoar, pedir perdão a outrem e pedir perdão a si mesmo. O que nos liberta é o auto-perdão.
Tudo isso foi dessa maneira porque eu consegui
me perdoar e, daqui em diante, é continuar convertendo a culpa em amor, para limpar o coração de qualquer ranço.
Quando chegar a vocês o momento do entendimento total, a coragem para pedir perdão (ao outro e a si mesmo) surge como se fosse mágica e aí, não tem como nos impedir. Por isso, o único conselho (sim, ele é bom, aceito pagamento por depósito em conta corrente rs) ou, se preferirem, a única sugestão que deixo é: PEÇAM PERDÃO! E, mais importante, PERDOEM-SE!
Boa sexta. =)