quinta-feira, 29 de junho de 2006

ESCOLARIDADE vs CULTURA o.O

(Fonte: Jornal O Globo, Segundo Caderno, Ed. 1, Pág. 8)
(Coluna: Arnaldo Jabor)

"Estamos todos no inferno
Não há solução, pois não conhecemos nem o problema


"Você é do PCC?"
Marcola:
Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível... vocês nunca me olharam durante décadas... E antigamente era mole resolver o problema da miséria... O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias... A solução é que nunca vinha... Que fizeram? Nada. O governo federal alguma vez alocou uma verba para nós? Nós só aparecíamos nos desabamentos no morro ou nas músicas românticas sobre a "beleza dos morros ao amanhecer", essas coisas... Agora, estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo... Nós somos o início tardio de vossa consciência social... Viu? Sou culto... Leio Dante na prisão...


" Mas... a solução seria..."Marcola: Solução? Não há mais solução, cara... A própria idéia de "solução" já é um erro. Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como? Só viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um governante de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento econômico, revolução na educação, urbanização geral; e tudo teria de ser sob a batuta quase que de uma "tirania esclarecida", que pulasse por cima da paralisia burocrática secular, que passasse por cima do legislativo cúmplice (Ou você acha que os 287 sanguessugas vão agir? Se bobear, vão roubar até o PCC...) e do Judiciário, que impede punições. Teria de haver uma reforma radical do processo penal do país, teria de haver comunicação e inteligência entre polícias municipais, estaduais e federais (nós fazemos até conference calls entre presídios...) E tudo isso custaria bilhões de dólares e implicaria numa mudança psicossocial profunda na estrutura política do país. Ou seja: é impossível. Não há solução.



"Você não têm medo de morrer?" Marcola: Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar... mas eu posso mandar matar vocês lá fora.... Nós somos homens-bomba. Na favela tem cem mil homens-bomba... Estamos no centro do Insolúvel, mesmo... Vocês no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira. Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês. A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração... A morte para nós é o presunto diário, desovado numa vala... Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em "seja marginal, seja herói"? Pois é: chegamos, somos nós! Ha, ha... Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né?

Eu sou inteligente. Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante... mas meus soldados todos são estranhas anomalias do desenvolvimento torto desse país. Não há mais proletários, ou infelizes ou explorados. Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivado na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da cidade. Já surgiu uma nova linguagem. Vocês não ouvem as gravações feitas "com autorização da Justiça"? Pois é. É outra língua. Estamos diante de uma espécie de pós-miséria. Isso. A pós-miséria gera uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia, satélites, celulares, internet, armas modernas. É a merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação da espécie social, são fungos de um grande erro sujo.


"O que mudou nas periferias?"
Marcola: Grana. A gente hoje tem. Você acha que quem tem US$40 milhões como o Beira-Mar não manda? Com 40 milhões a prisão é um hotel, um escritório... Qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro, tá ligado? Nós somos uma empresa moderna, rica. Se funcionário vacila, é despedido e jogado no "microondas"... ha, ha... Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes. Nós temos métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos. Nós lutamos em terreno próprio. Vocês, em terra estranha. Nós não tememos a morte. Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados. Vocês vão de três-oitão. Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em superstars do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora, somos globais. Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência.

"Mas o que devemos fazer?"
Marcola: Vou dar um toque, mesmo contra mim. Peguem os barões do pó! Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas. Mas quem vai fazer isso? O Exército? Com que grana? Não tem dinheiro nem para o rancho dos recrutas... O país está quebrado, sustentando um Estado morto a juros de 20% ao ano, e o Lula ainda aumenta os gastos públicos, empregando 40 mil picaretas. O Exército vai lutar contra o PCC e o CV? Estou lendo o Klausewitz, "Sobre a guerra". Não há perspectiva de êxito... Nós somos formigas devoradoras, escondidas nas brechas... A gente já tem até foguete antitanques... Se bobear, vão rolar uns Stingers aí... Pra acabar com a gente, só jogando bomba atômica nas favelas... Aliás, a gente acaba arranjando também "umazinha", daquelas bombas sujas mesmo.... Já pensou? Ipanema radioativa?

"Mas... não haveria solução?"
Marcola: Vocês só podem chegar a algum sucesso se desistirem de defender a "normalidade". Não há mais normalidade alguma. Vocês precisam fazer uma autocrítica da própria incompetência. Mas vou ser franco... na boa... na moral... Estamos todos no centro do Insolúvel. Só que nós vivemos dele e vocês... não têm saída. Só a merda. E nós já trabalhamos dentro dela. Olha aqui, mano, não há solução. Sabem por quê? Porque vocês não entendem nem a extensão do problema. Como escreveu o divino Dante: "Lasciate ogna speranza voi che entrate!" Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno."


Tá aí... MARCOLA PRESIDENTE!!!!

domingo, 4 de junho de 2006

STUDIO 54 (click and hear it)

Então... primeiro, clica no título pra "sentir" o post...rs... Agora pode começar a ler...rs

Ontem, após horas debruçada em alguns livros que falam sobre sindicatos, sindicalismo, negociações coletivas, os "moldes" legais e históricos de tudo isso, resolvi dar uma folga pras minhas sinapses e fui, após quase um ano sem fazer isso, procurar algum filme pra ver na tv a cabo... Achei alguns... Assisti "Anjos da Noite" (sobre a guerra entre vampiros e lobisomens, muito legal!!! - apesar de que eu já o tinha assistido algum tempo atrás), "Alguém tem que ceder" (comédiazinha romântica com o Jack Nicholson, Diane Keaton e Keanu Reeves, bem bonitinha... apesar que eu fiquei triste com o fim do Keanu... hahahahah)... e, por fim, peguei pela metade o "STUDIO 54"...

Acredito já ter falado desse filme neste blog diversas vezes... mas, ontem, a parte dele que assisti me "tocou" de uma outra maneira... diferente das outras tantas vezes que o vi...

Studio 54 é um filme que pode ser chamado de "porco", já que trata de uma danceteria muito famosa em Nova York nos anos 70/80 (sei lá, só sei que fechou as portas em 1986, após vários anos em funcionamento), onde estrelas, famosos, celebridades instantâneas e "aproveitadores" de todas as espécies se encontravam, todas as noites, pra "se libertar", dançar, consumir drogas e fazer sexo de modo nem tão seguro... Na verdade, podemos dizer que o Studio 54 era uma "putaria franciscana"...rs

Não foi legal ver um contraindo gonorréia, nem a outra morrendo de overdose, nem o outro sendo preso por sonegação fiscal... não foi legal saber que toda essa promiscuidade num mix com drogas destruiu a vida de várias pessoas que passaram por lá (como acontece até hoje em danceterias, boates de todas as espécies e "raves" espalhadas por aí)...

De qualquer modo, o que chamou minha atenção ontem no filme não foi nada disso... O que me veio à cabeça foi que o Studio 54 foi uma balada glamourosa, cheia de gente bonita, onde ninguém controlava nem recriminava ninguém, onde todos podiam ser quem quisesse e ninguém ia fuçar o passado ou a realidade da vida de cada um, onde havia "diversão garantida ou seu dinheiro de volta"...rs

Pensar em tudo isso, me lembrou uma única balada que frequentei de 3 meses após sua abertura até a sua segunda mudança de nome, a única balada onde o dono, o gerente, os barmans, os seguranças, o ambiente, os clientes, o glamour, o perfume, a liberdade "irrestrita", ou quase tudo nela se assemelhava ao Studio 54...

Lembrei da primeira vez que fui lá, de tudo o que vivi lá dentro e fora de lá como consequência de tudo o que acontecia nas minhas 5 noites por semana (às vezes 6) lá dentro... Era uma sensação muito legal saber que lá era a minha segunda casa... que eu podia "fugir" do lar pra balada e vice-versa quando algo "desagradável" acontecesse. Era bom saber que eu poderia ir pra lá sozinha, pois quando chegasse na entrada, sim, logo na entrada, ia encontrar um tipo de "família"...

NUNCA VAI HAVER OUTRA IGUAL À THE POOL!

Outros lugares foram parecidos com esse lance de "família", como a Club, A Loca, o Maevva, o Vivo... mas não são iguais... (acho que já disse isso aqui antes...rs)

Neles não existe o glamour e a liberdade... não existe a falta de discriminação... não existe o ritmo, o calor, o perfume, a amizade generalizada... simplesmente NÃO EXISTE NADA que se possa comparar com o que era vivido lá... não existe!

Foi a MELHOR ÉPOCA da minha vida noturna!... A melhor!... Fiz 2 amigos inesquecíveis e insuperáveis (Fabi e Cacá), era literalmente PROTEGIDA lá dentro, fosse por quem fosse... clientes, seguranças, dj´s, barmans... um tipo de "queridinha"... e é ÓBVIO q NINGUÉM NEM LUGAR NENHUM, NUNCA vai conseguir me fazer sentir assim de novo...

Não sou mal-agradecida com as pessoas que conheci nos lugares que frequentei depois, mas não posso comparar coisas que, simplesmente, não têm comparação!...

Enfim, bateu uma saudade fudida daquele tempo, do lugar, da música e das pessoas...
A música tema de Studio 54 (If you could read my mind - Stars on 54) era a MINHA MÚSICA TEMA na The Pool (na versão "Hex Hector remix, junto com It´s not right but it´s ok - W. Houston)...

E acho que minhas palavras acabaram...rs
Bjos a todos!

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