Nunca na vida imaginei que fosse recusar fazer uma entrevista de emprego em virtude da forma com que fui atendida ao telefone pela recepcionista do escritório contratante. Explico.
Quando somos crianças e nossos pais nos educam com o que chamam de "berço", somos ensinados a chamar os mais velhos de "senhor" e "senhora", exceção feita àqueles que expressamente nos dizem "pode me chamar de você" ou algo equivalente. Quando se lida com pessoas, aprende-se que expressões como "bom dia", "por favor", "obrigada" e um tratamento mais "formal" com os devidos pronomes de tratamento ("senhor", "senhora", "vossa senhoria", "vossa excelência", etc) ou títulos (doutora/a, mestre/a, professor/a, excelentíssimo/a senhor/a, ilustríssimo/a senhor/a, etc) devem ser usados para manter, senão as tais formalidades, ao menos o respeito à pessoa com quem se vai estabelecer comunicação (verbal ou escrita).
Entende-se que em empresas como Google, Twitter, Facebook e outras, cujo ambiente de trabalho e funções exercidas são mais informais, as pessoas se tratem por "você" e sem qualquer formalidade, mesmo quando há diferença de idade. MAS, quando se vai atender clientes, deve-se manter uma certa formalidade. Se for escritório de advocacia/arquitetura/engenharia, órgãos públicos (ex.: tribunais), clínicas médicas, hospitais, a formalidade deve ser maior ainda. Por questões de dar o devido respeito aos clientes, assim como exigir o devido respeito dos mesmos.
A educação/gentileza e o respeito devem começar do dono e ir descendo até a recepcionista/telefonista/copeira/faxineira. Não adianta o dono, os sócios, os médicos/advogados serem super educados e respeitosos se a recepcionista for alguém que trata qualquer pessoa que ligue para a organização por 'você', com uma intimidade que não lhe foi dada, com prepotência ou ironia, dentre outras coisas que diversas recepcionistas e telemarketings fazem, como se a pessoa que telefona fosse empregada delas. Eu, se sou cliente, não volto.
Tem gente que não passa de cargos como o de recepcionista porque são ingênuas e vivem passando a perna nelas. Mas, tem gente que não passa de cargos como o de recepcionista porque não tem um pingo de berço, não faz questão de ter um pingo de berço e acha que vai chegar a CEO, o que hipoteticamente lhe daria poder para, desculpem o termo, cagar na cabeça dos outros.
Empresas em que quem nos recepciona pessoalmente ou por telefone trata pessoas como "coleguinha", como se fosse íntimo/a dos clientes, superiores, colegas de trabalho são locais que eu NÃO gostaria de trabalhar. A praxis, em escritórios de advocacia, é tratar todas as pessoas que telefonam ou vão até a sede por "senhor/a", mesmo que a pessoa seja mais nova, ou não seja advogada.
Recebi um e-mail do escritório Carvalho Pradella que havia sido encaminhado 8 vezes, OI-TO-VE-ZES antes de chegar em mim, para agendar uma entrevista. Telefonei para saber para qual cargo eles estavam me chamando para fazer entrevista. O que me responde a recepcionista: "VOCÊ é quem vai me dizer para que cargo quer se candidatar." Ora, me mandam um e-mail para marcar entrevista e quem vai fazer o agendamento não sabe para que cargo me querem? Quase falei que queria o cargo de chefe dela para poder dispensá-la por justa causa (desídia) rs.
Só disse que eu era advogada, mas não iria participar do processo seletivo, porque se ela não sabe para o que me chamaram, eu é que não tinha como saber. Fiquei MUITO brava. Ela não tem como saber com quem está falando, eu sei. Porém, é exatamente por isso que ela deve manter uma certa formalidade. Minha filha tem 15 anos e sabe isso desde sempre. Chamava os bisavós de "senhor" e "senhora" até que eles disseram que não precisava. Uma marmanja inserida no mercado de trabalho também deveria saber.
Obviamente, enviei um e-mail (resposta) à advogada que me re-re-re-re-re-re-reencaminhou o email de agendamento agradecendo a oportunidade e me colocando à disposição do escritório para prestação de serviços em home-office, sem vínculo empregatício.
Sério: alguém consegue me imaginar sendo gentil, diariamente, com a "moça" que me atendeu ao telefone? Perguntei a mim mesma qual será o nível educacional/cultural dos demais funcionários do escritório... e acredito que lá não é um lugar bom para eu trabalhar.
Minha alma está cansada de "brutalidade". A moça do telefone é bruta. A advogada que me re-re-re-re-re-re-reencaminhou o email, presumo, deve ser bruta também. Essas duas pessoas COM CERTEZA, exigem tratamento cortês, individualizado e atencioso... mas, com que direito? O mundo está bruto demais e eu não consigo me inserir nele.
Pessoas não são coisas. Bons profissionais (educados, cultos, éticos, gentis) não deveriam NUNCA se sujeitar a processos seletivos como o que esse escritório está propondo. Tenho 18 anos, DE-ZOI-TO anos de OAB, 17 anos, DE-ZES-SE-TE anos em Execuções Trabalhistas. Se eu não me valorizar e for concorrer com recém-formados que falam e escrevem, como diria meu falecido Pai, "nóis vai, nóis vorta", não é um escritório desses que vai.
Advogar, para mim, é uma tortura moral e emocional. Com as Execuções, não preciso lidar com gente, com inconstâncias, com interrupções, com falta de pagamento, etc. Com as Execuções, eu lido com papel, computador, calendário e burocracia. É uma relação impessoal, que desafia minha mente, não a minha alma (porque não me tira do meu centro - e, sendo bem sincera, eu AMO achar erros dos meus colegas advogados nos processos... já salvei muitas ações em fase de Execução fazendo isso; eles me odeiam por isso, mas é o meu trabalho, o que eu faço de melhor no Direito).
Espero que valores como "berço" (educação familiar), "discrição", "elegância", "respeito", "trato social" voltem a estar "em alta" logo, porque o mundo, no estado em que se encontra, está insuportável.
Tomara que o fim de "Mercúrio retrógrado" faça algum bem à humanidade... seja lá o que isso representa. Até. ✌
PS: Se for para lidar com gente, é através do Reiki, função em que posso dar conforto, relaxamento, equilíbrio e outras coisas boas, em vez de criar problemas para as pessoas.